23 de março de 2010

A Senhora de Glenbroch - Kristina Cook

Um romance de banca para incrementar às terças-feiras!


A Senhora de Glenbroch
Autora: Kristina Cook

Editora: Nova Cultural 
Série: Clássicos Históricos
Edição 435
Assunto: Literatura Estrangeira - Romance Histórico
Lançamento: 09/01/2010


- Sinopse:

Escócia, 1819

Um cavalheiro com um plano... Uma dama com um problema
Embora tenha a reputação de irresponsável, Colin Rosemoor não trapaceou no jogo de cartas, uma acusação que o deixa malvisto perante a sociedade e a jovem com quem pretende se casar. Colin recorre à ajuda de seu amigo Hugh Ballard, para recuperar a honra, e a namorada, mas quando fica conhecendo a irmã de Hugh, que foi raptada quando criança e que recentemente regressou ao convívio com a família, as coisas mudam. Brenna Maclachlan é uma jovem inteligente, independente e irresistível...

Vivendo numa mansão na Escócia, herdada de seus supostos pais, Brenna não está preparada para descobrir que é, na verdade, filha de um conde inglês e sua esposa. Levada para Londres, onde se sente completamente fora de seu ambiente, ela conhece Colin e se sente atraída por ele. E fica horrorizada ao saber que sua família a prometeu em casamento ao pior inimigo de Colin! Entretanto, as reviravoltas do destino que separam Brenna e Colin logo se transformam em aventuras apaixonadas que os aproximam mais do que nunca, revelando todos os segredos...

________

- Leia Um Trecho:

Prólogo

North Road, Inglaterra, março de 1793

—Conseguiu, mulher? — Quando a porta da carruagem fechou e o veículo moveu-se, o homem olhou para o pequeno pacote que a mulher trazia junto ao peito.
— Consegui, marido. — Ela gentilmente abaixou o pacote revelando um chumaço de cabelinhos castanhos com fios dourados. Olhos azul-claros devolveram o olhar dos dois adultos. O bebê bocejou e começou a sugar o punho ruidosamente.
— E onde está a ama de leite?
— Nós a pegaremos na estalagem. Donald, olhe o garotinho. O que acha dele?
O homem observou o bebê, atento.
— Ele é bonito de verdade, Ceilie, assim como você disse. Agora ninguém vai dizer que Donald Maclachlan não é capaz de gerar um filho. — Pegou o bebê e o colocou sobre o banco de couro, começando a abrir os panos que o envolviam.
Um braço gordinho apareceu, depois o outro. Uma pequenina mão se estendeu e agarrou-lhe a barba.
— Não pode fazer isso, meu menino. — Ele tirou os dedos do bebê de sua barba. — Agora, meu filho, temos uma longa jornada pela frente. Melhor dormirmos um pouco.
— Acariciou os cachinhos dourados. — Iain será seu nome — disse.
— Examine as fraldas — a mulher pediu. — Um bebê sequinho é um bebê feliz, minha mãe  costumava dizer.
Kristina Cook
O homem abriu as fraldas e então franziu a testa.
— Diabos, Ceilie!
— Senhor Deus! — A mulher fez o sinal da cruz. — É... É...
— Uma menina! — o homem completou a frase da esposa.
— Mas... Como é possível?
— Não sabe a diferença entre um menino e uma menina, Ceilie?
— Não sei como isso aconteceu! O bebê ainda estava lá em cima com a babá, mas ela havia dado uma saidinha. Eu não sabia como...
— Não examinou a criança? — ele indagou, irritado.
Os lábios da mulher começaram a tremer.
— Examinar? Não, não examinei. Não havia tempo — murmurou. — Todo esse trabalho para nada. — Ela começou a chorar.
A criança choramingou também.
— Devolva-a! — disse Donald. — Uma menina não me serve para nada.
— Levá-la de volta? Não podemos fazer isso. Seremos enforcados com certeza! Precisamos seguir com o nosso plano e atravessar a fronteira. Não temos escolha. 
Por um momento, o homem olhou a paisagem pela janela da carruagem. Por fim, balançou a cabeça.
— Sim, acho que tem razão. Não podemos nos arriscar.
Mas, em nome de Deus, o que vou fazer com uma filha?
Como se entendesse as palavras, a menininha começou a choramingar mais forte. Ceilie a tomou nos braços e olhou para o marido. Acariciou os cabelinhos da criança, murmurando palavras suaves:
— Não chore, meu bebê. Você é uma menininha, mas muito bonita. Não é sua culpa. Vamos, não chore.
Por fim a criança se aquietou. Pegou o dedinho e começou a sugá-lo. Aos poucos, seus olhos foram fechando.
Somente então a mulher permitiu-se fechar os próprios olhos, deixando que o balançar da carruagem amenizasse seu nervosismo.
— Está feito — ela murmurou. Tinha agora um bebê, não importava se fosse uma menina. Ela era bonita, perfeita, mesmo correndo sangue inglês em suas veias. Isso não podia ser mudado. A criança tinha de ir muito longe para que ninguém jamais procurasse por ela.
Momentos mais tarde, já quase pegando no sono, Ceilie sentiu o marido se movimentar a seu lado e abriu os olhos.
Viu que ele observava o bebê e lhe acariciava a cabecinha.
— Durma agora, Ceilie — Donald murmurou. — No fim, tudo vai dar certo.
A mulher fechou os olhos mais uma vez, um leve sorriso nos lábios. Talvez acabasse mesmo dando certo.


Capítulo I

Lochaber, Escócia, maio de 1819

—Desgraçados! — Brenna Maclachlan empurrou a cadeira de volta à mesa e se levantou com
as pernas trêmulas. — Queimar as casas para obrigá-los a sair. Mulheres e crianças. Forçando-as a sair sem nada além da roupa do corpo. Como podem tratar os próprios conterrâneos de maneira tão vil, tão cruel? — Ela lançou um olhar ao papel que estava a sua frente, em cima da mesa. A substituição das plantações por terra pronta para pastagens tinha começado bem antes de ela nascer, mas jamais alguém agira com tanta violência, com tanta falta de humanidade, como estava acontecendo agora em Sutherland. Ela mal acreditava nas palavras que lera. — Isso pode ser mesmo
verdade?
— Sim, não tenho dúvida de que seja verdade. — James Moray, o administrador das terras Maclachlan por quase duas décadas, franziu a testa. — Não é a primeira vez que ouço a respeito dessas atrocidades. Mais carneiros significam mais dinheiro para encher suas bolsas, e Stafford só
se interessa por lucro.
Brenna pôs a mão na testa.
— Mas aquelas famílias têm trabalhado a terra por gerações. Quem é ele para expulsar as pessoas? Quando isso vai acabar? Quando não houver mais nenhum espaço sem carneiros em Sutherland?
— Stafford afirma que está melhorando as terras, aquele miserável!
— Melhorando? Bah! — Ela gesticulou. — Isso foi uma carnificina, nada mais. Ganância demais. Pensar que um escocês seria capaz de fazer isso a outro escocês!
— Stafford não é escocês, e a condessa passa a maior parte do tempo na Inglaterra. Tem pouco ou nenhum interesse por esses assuntos. É uma Gordon, a senhorita sabe. Nem mesmo uma Sutherland.
— E quanto aos nossos arrendatários, sr. Moray? Eles ouviram as notícias do Norte? Têm medo que o mesmo venha a lhes acontecer aqui em Glenbroch?
— Claro que não. Nossos arrendatários sabem que a senhorita é uma proprietária justa e generosa, assim como seu pai sempre foi. Eles têm certeza de que ficarão bem enquanto um Maclachlan estiver aqui em Glenbroch. Mas o mesmo não pode ser dito de nossos vizinhos na propriedade de lorde Hampton. — Moray aproximou-se da janela e olhou para o leste. — Um proprietário sempre ausente
e sem nenhum interesse por suas terras, a não ser receber os aluguéis... — Balançou a cabeça. — É muito provável que decida criar carneiros. Na verdade, alguns arrendatários de Hampton já começaram a emigrar, mas muitos não podem. Questão de tempo, como seu pai disse um pouco
antes de adoecer e...
— Pare, por favor. — Brenna ergueu a mão. — Não posso escutar mais. — Fechou os olhos e respirou fundo, a dor de ter perdido os pais era muito recente para ser suportada. Hera pulou no colo de Brenna, que se inclinou para acariciar o pelo sedoso da gata.
— Oh, Hera, isso é horrível, não é? — murmurou, como sempre consolando-se com a presença carinhosa do animal.
— Lady Maclachlan?
Brenna ergueu a cabeça e viu a governanta parada à porta.
— O que foi, sra. Campbell?
— Desculpe-me, mas há estranhos à porta, fazendo perguntas sobre a senhorita.
— Estranhos?
— Um lorde e uma lady ingleses, senhorita. E há um homem da lei com eles.
— Ah, é isso? — Os estranhos deviam ter vindo lhe fazer uma bela oferta pela terra, sem dúvida; a terra que não estava à venda. Brenna já recebera dois outros interessados nos últimos quinze dias. Deixou a sala de jantar e seguiu para a porta da frente. — Eu os receberei.
Um homem usando monóculo encontrava-se nos degraus da frente. Atrás dele, havia outro homem e uma mulher cochichando. Todos se voltaram para Brenna quando ela se aproximou.
— Sou lady Maclachlan. O que desejam?
O homem com o monóculo olhou para o casal. A mulher lhe acenou, e ele então se voltou para Brenna mais uma vez.
— É verdade que a senhorita nasceu no dia 9 de outubro de 1792?
A estranha pergunta fez o coração de Brenna disparar.
O que isso significava? Procurou manter a voz firme ao responder ao homem:
— Sim, é verdade, mas insisto em saber o seu nome, senhor, antes de continuarmos.
Ele fez uma leve reverência.
— Se me permite. Sou Jonathan Wembley, de Bow Street. Represento lorde e lady Danville, aqui presentes. — Virou-se e acenou para o casal. Tirou uma folha de papel do bolso de seu casaco. — E é verdade — continuou — que a senhorita nasceu na Inglaterra, nessa data que acabei de
mencionar?
— De fato, mas não vejo o que isso possa lhe interessar.
Meus pais viajaram a Lancashire antes que minha mãe descobrisse estar grávida, e então eles precisaram ficar lá até o meu nascimento.
— Quatro meses, eu creio.
Brenna arqueou uma sobrancelha.
— Quatro meses? Não estou entendendo, senhor.
— A senhorita estava com quatro meses de idade quando chegou ao castelo de Glenbroch?
— Sim — ela resmungou. — Sugiro que pare de falar por charadas, sr. Wembley, e diga logo a que veio.
A mulher largou a mão do marido, se aproximou do advogado e o puxou pela manga do casaco.
— A marca de nascença. Pergunte a ela sobre a marca de nascença.
Wembley examinou novamente o papel que tinha em mãos.
— Precisa perdoar a minha indelicada pergunta, senhorita, mas é possível que tenha uma marca de nascença no lado de dentro de sua... perna direita, no formato de uma... — Ele franziu a testa. — Lady Danville, aqui está escrito que era no formato de uma flor-de-lis. Isso não pode ser.
Brenna sentiu o ar lhe faltar e involuntariamente levou a mão à perna direita.
— Como é que o senhor...
— É ela! — a mulher exclamou, as lágrimas escorrendo por sua face. — Depois de todos esses anos de procura — prosseguiu, soluçando. — Finalmente, sr. Wembley!
Finalmente o senhor encontrou nossa filha!
— Filha? — Brenna olhou para o advogado, que agora sorria para o casal. — A mulher é louca? — disse com voz estridente.
Lorde Danville, como Wembley o chamara, encontrou o olhar de Brenna, que pôde notar que ele tinha os olhos verde-azulados, do mesmo tom que os dela.
— Mal consigo acreditar — Danville murmurou, sorrindo.
— Nunca pensei que viveria para ver este dia. Nossa filha Margaret!
Margaret? Eles deviam estar loucos. Brenna sentiu o chão lhe faltar e a visão se tornar nublada. Seguiu-se um zumbido nos ouvidos, e então ela caiu ao chão, desmaiada.
___
Colin Rosemoor fez uma careta de dor quando tropeçou em um buraco na rua. Pôs a mão na testa, que latejava. Procurou endireitar o corpo e firmar a bengala no chão. O estômago lhe doía. Maldito Mandeville e seu conhaque!
Mas, com toda a franqueza possível, tinha mesmo precisado da bebida, até desesperadamente, depois do que acontecera na noite anterior.
Não tinha ideia de como aquela maldita carta aparecera no bolso de seu casaco. Era ridículo alguém pensar que ele trapaceava no jogo. Havia perdido um dinheirão nas mesas. Mas acontecera de se encontrar em uma maré de sorte.
E então tinha ganhado várias centenas de libras e um documento de transferência de terras férteis na Escócia, assinado pela proprietária, a marquesa de Hampton.
E depois de ele ganhar uma soma significativa do duque de Glastonbury, aquele bastardo de Sinclair o tinha chamado de trapaceiro, obrigando-o a tirar tudo o que havia em seus bolsos. E lá estava o quatro de copas. Sem dúvida a carta fora colocada em seu bolso pelo próprio Sinclair, mas como
ele podia provar isso?
Glastonbury o havia expulsado da sala. Colin gemeu ao se lembrar daquilo. Mandeville o levara embora antes que ele tivesse a chance de entrar de novo no clube e desafiar Sinclair a um duelo. Claro que quando tinha explicado o episódio todo para Mandeville, o marquês, um inimigo jurado
de Sinclair, quisera tirar satisfação no clube e esclarecer os fatos. Mas diabos, ele não o havia deixado fazer isso.
Seria covardia de sua parte, uma fraqueza, deixar o marquês de Mandeville enfrentar as batalhas por ele.
___

Apressou o passo ao chegar à esquina da St. James.
Glastonbury apreciava tomar vinho do Porto no clube todas as tardes, precisamente às duas horas. Colin consultou o relógio. Duas e quinze. Falaria com o duque e lhe asseguraria de que havia ganhado no jogo de forma justa e honrada.
E então encontraria Sinclair e lidaria com o sem-vergonha de uma vez por todas.
Era óbvio que Sinclair tivera seus motivos para tentar difamá-lo. Seu interesse por Honória Lyttle-Brown era conhecido, e, ao que tudo indicava, ela estava prestes a aceitar o pedido de casamento de Colin. Ela havia deixado isso bem claro quando lhe permitira um casto beijo, em uma das alamedas assombreadas dos Jardins Vauxhall.
Ele subiu os degraus da escada de entrada do clube com determinação, tirou o chapéu e o estendeu com a bengala, ao chapeleiro. O homem pegou os objetos sem encará-lo, os olhos esquadrinhando em volta, nervosamente.  O porteiro atrás dele pigarreou.
— Perdoe-me, sr. Rosemoor, mas preciso lhe pedir que espere aqui. Tillson — ele fez sinal em direção ao outro funcionário —, chame o sr. Montgomery.
— Algum problema? — Colin tentou controlar a raiva e manter-se calmo.
— Lamento dizer que sim, sr. Rosemoor. Fui alertado a chamar o sr. Montgomery no momento em que o senhor entrasse aqui.
— Rosemoor. — Montgomery desceu as escadas com o funcionário em seus calcanhares. — Lamento ter de lhe pedir que deixe este lugar imediatamente.
Colin sentiu um frio no estômago.
— Não estou entendendo, Montgomery.
— Sei que entende, sim, Rosemoor. Não aceitamos aqui a presença de trapaceadores. — Montgomery fez sinal para o empregado devolver o chapéu e a bengala a Colin. — Somos um clube de cavalheiros. E você não é mais um membro do White’s. Sua adesão foi cancelada. Tenho de lhe
pedir que saia daqui neste instante.
Os dois funcionários se moveram ameaçadoramente, e Colin deu um passo para trás.
— Ora, meu pai não vai aceitar isso! — ele exclamou.
— Ele irá falar com...
— Peça a lorde Rosemoor que fale com o duque de Glastonbury. Tenho certeza de que o duque ficará feliz em explicar a sua posição neste assunto. — Montgomery dispensou Colin com um aceno e lhe deu as costas, voltando a subir a escada de onde viera.
Em silêncio, Colin observou o homem sumir de sua vista.
O porteiro e o outro empregado evitavam encará-lo enquanto ele pegava o chapéu e a bengala, o coração disparado.
Havia sido expulso do clube? Sem que lhe permitissem defender sua honra? Não podia ser verdade.
— Isso não vai ficar assim! — Colin grunhiu, deixando o clube, cego de raiva.
Droga! Não aceitaria a ofensa assim tão facilmente. Iria procurar Sinclair e o desafiaria a um duelo. Mas então se lembrou de Honória e sentiu um frio na espinha. Procurou pensar com calma. Será que as notícias já haviam chegado até a jovem? Sinclair sem dúvida devia tê-la procurado, tentando fazer que dirigisse suas afeições a ele. Que outro propósito teria tido para arruiná-lo diante de Honória?
Será que ela ainda o aceitaria depois de Sinclair lhe encher os ouvidos de mentiras?
Com um grunhido de frustração, Colin seguiu direto para a residência dos Lyttle-Brown, em Berkeley Square, esperando que não fosse tarde demais.

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