18 de maio de 2010

Refém nas Terras Altas - Hannah Howell


Taí um romance de banca que eu quero!


Refém nas Terras Altas
Autora: Hannah Howell

Editora: Nova Cultural
Série: Clássicos Históricos Especial
Edição 351 
Lançamento: 22/4/2010


- Sinopse:

Escócia, 1500

Uma paixão proibida

As Terras Altas da Escócia são uma região de grande beleza, mas também de imenso perigo. Por isso, quando Aimil Mengue é capturada por um clã inimigo, ela tem razão em temer por sua vida... e também por sua castidade, pois seu captor é o infame guerreiro Parlan MacGuin. A reação inicial de Aimil é odiá-lo, porém, Parlan é muito mais honrado, e infinitamente mais atraente, do que ela imaginava. Embora esteja prometida a outro homem, Aimil não pode negar o desejo que sente pelo homem que a mantém cativa.

Parlan MacGuin conhece sua fama de guerreiro destemido e implacável, e faz uso disso para conquistar terras e corações femininos. Aimil, contudo, representa outro tipo de conquista. Parlan sente um desejo novo e inexplicável pela mulher que mantém prisioneira, à medida que a paixão proibida que os une ameaça deflagrar uma batalha sangrenta entre os clãs... ou preencher seus corações para sempre!
________

- Leia um Trecho:

Capítulo I

Escócia, 1500

O espanto congelou as feições do belo jovem quando o cavalo no qual ele montou deitou-se, lançandoo ao chão. Por um instante, ele simplesmente encarou o garanhão branco se levantar devagar. Limpando as roupas ao se erguer, olhou fixamente para a moça pequena e delicada que, sentada pouco além, ria convulsivamente.
— Pirralha! — disse ele com afeição na voz. Um sorriso começando a surgir em seus lábios. — Quando foi que lhe ensinou esse truque?
— Enquanto você se divertia em Aberdeen, Leith.
Leith sorriu ao se deitar ao lado da irmã, acomodando a cabeça sobre os braços cruzados.
— E que dias gloriosos eu tive...
— Você não toma jeito mesmo, não é? — Os olhos cor de água marinha de Aimil brilhavam de contentamento.
— O que tia Morag diria?
— Deus me livre disso! — ele observou ao se sentar.
— É melhor voltarmos, está ficando tarde.
— Temos mesmo? Não saí sequer uma vez daquele castelo o mês inteiro.
— É mais seguro já que os MacGuin estão à solta de novo. Eu não deveria ter permitido que você me convencesse a sair. Nem mesmo estando vestida como um rapaz. Nós até podemos passar despercebidos, mas não esse seu garanhão. — Segurando-a pela mão, Leith conduziu-a até o cavalo. — Agora me conte sobre esse casamento do qual ouvi comentários. — Viu que ela empalidecia.
— Ah, não!... É o que estou pensando?
— Sim, mas não consigo me conformar. Eu não gosto de Rory Fergueson.
Nem Leith gostava, mas refreou o comentário.
— Vou falar com papai.
— Isso de nada adiantará, o casamento foi arranjado há muito tempo. E papai parece ansioso para se livrar de mim.
Não havia como Leith negar essa triste verdade. O fato era que, desde que Aimil havia começado a mostrar os primeiros traços de mulher, era ignorada pelo pai.
As irmãs mais velhas sabiam disso, e os dois irmãos mais novos também, bem como o restante do clã.
Qualquer tentativa de tocar no assunto com o pai resultava num ataque de fúria ou num silêncio resoluto.
E, agora, ele estava disposto a entregá-la a um homem sobre o qual se ouviam os boatos mais hediondos.
— Mesmo assim tentarei falar com ele. Papai lhe deu alguma explicação sobre o porquê de o casamento ser realizado agora?
— Disse simplesmente que já era hora de eu me casar
— Aimil falou com um tom de frustração na voz. — E que havia prometido isso a um velho amigo.
— Isso não é um bom motivo. Se você está sendo obrigada a se casar com um homem que não quer, ele ao menos precisa lhe dar um bom motivo. Ainda que o arranjo tenha sido feito enquanto você era apenas um bebê.
Aimil sorriu diante da zanga do irmão. Leith era tão parecido com o pai... Ele distribuía ordens que esperava ver cumpridas imediatamente.
Diferentemente do patriarca, porém, explicava seus motivos, caso alguém o questionasse.
Mesmo sabendo que a raiva e a determinação dele não a livrariam do compromisso, sentia-se confortada por poder contar com um aliado. Quem sabe não conseguisse ao menos arrancar uma explicação do pai?
Uma aliança fora a primeira coisa que lhe viera à mente, pois ainda que estivessem longe da pobreza,
clãs pequenos como os deles eram alvo constante dos MacGuin. Essa sua teoria tinha ido por água abaixo, pois a família já fizera aliados com os casamentos de Giorsal e de Jennet, ligando os Mengue aos MacVern e aos Broth.
Por isso não acreditava que casar-se com Rory fizesse muita diferença, só tornaria sua vida miserável.
Leith sentia que a urgência em voltar para casa não se devia mais ao fato de estar ficando tarde. Ele sabia que o pai tinha conhecimento do homem que Rory se tornara e por isso não entendia sua decisão. Assim como não compreendia o comportamento dele para com Aimil, a mais bela das irmãs. Quanto mais ele pensava em sua  irmã predileta nas mãos de Rory Fergueson, mais determinado
ficava em pôr um fim a esse casamento.
Quaisquer que fossem os planos que Leith tivesse, estes se perderam ao som do galope de cavalos se
aproximando com as cores do estandarte dos MacGuin.
O jovem Artair MacGuin se perguntou por que dois rapazes tolos se colocariam em seu caminho na volta para casa. Reconhecendo as cores do clã Mengue, pensou que esta poderia ser uma oportunidade de impressionar o irmão mais velho com dois prisioneiros para um posterior resgate. As duas excelentes montarias seriam um prêmio adicional. O irmão não tinha autorizado essa sua incursão nos territórios do sul, mas Artair estava certo de que o ganho obtido apaziguaria as coisas entre eles.
Desembainhando a espada, Leith se pôs entre Aimil e os cavaleiros.
— Fuja enquanto pode, eu os deterei.
O instante de hesitação em deixar o irmão para trás custou-lhe caro. Aimil mal havia montado em seu cavalo e um dos MacGuin segurou a rédea. O chute que ela lhe deu no rosto mostrou ser uma vitória temporária e por mais que ela e a montaria se esquivassem, lutando bravamente e deixando os homens com diversos hematomas, ela acabou sendo subjugada com um golpe na cabeça. Antes de desmaiar ainda conseguiu ver o irmão sendo atacado por diversos homens e acreditou que ele
morreria.
O forte odor de cavalo foi a primeira sensação que ela teve ao voltar a si. Percebeu que estava amarrada na parte de trás de um cavalo que avançava rapidamente. O corpo adormecido não parecia se importar com o abuso, apenas a cabeça latejava em compasso com as patadas do animal. Não conseguia ver Leith em seu campo de visão, mas recusava-se a admitir que ele pudesse ter morrido.
O castelo dos MacGuin surgiu e os cavalos diminuíram a velocidade. Sentiu um peso no coração, pois uma vez lá dentro, seria muito mais difícil fugir. Não era nenhum soldado, mas sabia bem que a construção era uma fortaleza. Estava certa de que pediriam resgate pela sua devolução e a de Leith, porém a permanência ali, por menor que fosse, a fazia estremecer.
Não sabia se seu disfarce ainda estava intacto e, se estivesse, por quanto tempo conseguiria manter a farsa. Ouvira um bom número de histórias e imaginava qual seria seu fim se descobrissem que um dos rapazes capturados era, na realidade, uma moça.
— Acordou, hein? Aposto como aquela luta acabou com as suas forças, moleque.
Aimil fechou os olhos num instante de alívio diante do homenzarrão que afrouxava a corda de seus pulsos.
Ele não parecia ser do tipo de cortava gargantas a esmo, mas também estava certa de que não poderia confiar cegamente. Afinal, o próprio pai não a decepcionara ao lhe negar o amor de outrora?
— Pare de me olhar assim — o homem zombou ao soltá-la e deslizá-la pelo lombo do cavalo. — Não parece ter forças para executar a ameaça que traz nos olhos.
— Coloque-os no calabouço, Malcolm — Artair ordenou.
Ainda segurando uma fragilizada Aimil, Malcolm franziu o cenho.
— Eles são apenas dois garotos e não parecem estar tão saudáveis no momento.
— Esses garotos acertaram metade dos meus homens bem como as montarias. Leve-os para o calabouço! Pelo menos assim não terei de me preocupar em reforçar a guarda até o regresso de Parlan. Acho que será melhor ele determinar o montante do resgate.
Malcolm ainda se mostrava preocupado ao sustentar Aimil em seus braços. Ela não parecia capaz de ficar em pé sozinha. Viu que o outro rapaz também estava sendo carregado. Jogar dois jovens no inferno, como era  chamado o calabouço, parecia-lhe cruel. A seu ver, eles não representavam ameaça alguma. Eram prisioneiros, contudo ele tinha certeza de que o senhor das terras não os trataria com tamanho desprezo.
...
Já estava ao pé da escadaria quando percebeu que o cavalo branco os seguia e tratava os que tentavam detê-lo com indocilidade letal.
— Coloque-me no chão!
— Não consegue ficar em pé — Malcolm resmungou, temendo o cavalo que se aproximava.
— Pois então me segure direito. Preciso falar com Elfking antes que ele mate alguém para ficar perto de mim.
Segurando-a firme, Malcolm não foi o único a testemunhar maravilhado o modo como o rapaz acarinhava o focinho do garanhão, sussurrando:
— Não, Elfking, você não pode me seguir. Fique com estes homens. Fique aqui. Vamos nos demorar um pouco. Fique com eles. — Aimil sentiu uma névoa escura começar a envolvê-la de novo. — Acho que terá de me carregar de novo, sr. Malcolm. Por favor...
— Isto não está certo — Malcolm resmungou ao ver a grade se fechar, trancando os dois jovens prisioneiros já quase inconscientes naquele buraco escuro.
— Não sabia que tinha coração mole, Malcolm — outro homem disse, sem expressar algum tipo de condenação na voz.
...
— Mas ele está certo desta vez — observou Lagan Dunmore, um primo do senhor do castelo que costumava visitá-lo com assiduidade.
— Certo ou errado, Artair é o encarregado na ausência de Parlan. E foi aqui que ele ordenou que colocássemos os dois e é aqui que eles vão ficar. Lagan trocou um olhar impotente com Malcolm e
suspirou:
— Então, só nos resta rezar para que Parlan chegue logo, caso contrário, não terá nada para pedir resgate.
— Só a enterrar — Malcolm opinou pesaroso antes de se afastar.
A escuridão envolvia Aimil quando ela acordou. Lutando para recobrar os sentidos, ela reconheceu a
grade acima de sua cabeça e percebeu o lugar em que se encontrava. Estava no calabouço, um buraco escuro é fétido. Refreou o impulso de gritar, pois não queria revelar seu terror.
Bloqueando o medo ao imaginar que criaturas habitavam aquele lugar úmido e escuro, tateou à sua volta à procura de Leith. Por causa das dimensões ínfimas do espaço, não demorou a encontrá-lo.
Ele ainda estava inconsciente, e Aimil apoiou a cabeça dele em seu colo, começando a procurar ferimentos  graves no corpo do irmão.
— Aimil?... — Leith gemeu ao tentar se levantar só para cair de novo.
— Estou aqui, Leith. Está muito ferido? Não consigo saber pelo tato e aqui está muito escuro para eu
poder examiná-lo.
— Está tudo bem. Alguns arranhões e hematomas apenas. Não se preocupe.
...
Ela sentiu que a voz do irmão estava fraca, mas sem luz, não tinha como saber se ele mentia.
— Fomos jogados num calabouço.
Ele a segurou pela mão e a apertou firme.
— Não será por muito tempo. Papai logo providenciará nosso resgate. — Um riso trêmulo escapou de seus lábios. — Eles devem ter ficado bem impressionados com nossa resistência para nos prender aqui. Afinal, somos apenas dois moleques.
Sabendo que Leith buscava confirmação de que seu disfarce ainda valia, ela respondeu:
— É mesmo. O que devo dizer quando perguntarem meu nome?
— Diga que é Shane. Papai entenderá o que aconteceu e aceitará nosso subterfúgio.
— Ele deve estar se perguntando onde estamos a esta altura. — Aimil suspirou, sabendo que o pai ficaria muito preocupado; pelo menos com Leith.
Assim que Lachlan Mengue notou a ausência de dois de seus filhos, chegou a notícia de que os MacGuin haviam passado pelas terras dos Fergueson. Começou a temer o pior quando seus melhores batedores não conseguiramencontrar nenhum sinal de Leith nem de Aimil.
O instinto lhe dizia que eles haviam sido capturados.
Muitos dos lugares onde eles costumavam cavalgar estavam no caminho do grupo dos MacGuin e somente um tolo não perceberia a oportunidade de resgate que eles representavam. E Parlan MacGuin não era um tolo.
A noite passou e o outro dia chegou. Lachlan confortava- se na bebida à espera de uma notícia. Qualquer  notícia. Seu herdeiro e sua filha caçula estavam desaparecidos e ele se sentia perdido, a despeito de seus quatro outros filhos tentarem consolá-lo.
Antecipando um pedido de resgate, começou a rever a contabilidade e modos de levantar um montante. Mesmo quando outro dia se passou sem novidades, agarrou-se ao pensamento de que eles eram prisioneiros. Qualquer um que se mostrasse cético tinha de enfrentar sua ira.
Seus filhos estavam vivos, e ele se recusava a pensar de outro modo até que os corpos sem vida deles lhe fossem apresentados.
Aimil temia pela vida do irmão. Seus ferimentos podiam ser superficiais, mas não estavam sendo cuidados.
Dois dias e duas noites no frio e na umidade daquele buraco, abateram-no. Leith ficava mais tempo inconsciente do que consciente, e ela tinha certeza de que ele começava a ter febre. A comida parca uma vez ao dia e uma manta fina de nada adiantavam.
Ela não conseguia acreditar na insensibilidade dos guardas que ignoravam seus apelos. Os dois homens que haviam demonstrado mais empatia com a situação de ambos, tinham sido substituídos por outros, que sugeriram que o motivo do afastamento fora justamente a consideração para com ela e seu irmão.
No quarto dia de confinamento, quando o guarda trouxe o suprimento diário, não havia mais dúvida, Leith ardia em febre. Aimil o segurava enquanto ele se debatia, chorando pela inabilidade de cuidar dele, nem mesmo de lhe banhar o rosto. Dormira pouco durante a noite, cochilando brevemente nos poucos momentos de sossego.
 Sua face estava suja e marcada pelas lágrimas ao encararo homem que os observava do alto.— Nem assim vai nos tirar deste buraco imundo?
— Não posso, rapaz — o homem respondeu com simpatia
para o moleque que o fitava com o rosto marcado.
— O senhor do castelo ainda não retornou e é o irmão quem está encarregado no momento. Ele não pretende deixá-los sair.
— Então ele é um tolo! Não terá nada com que pedir resgate. Mesmo um homem cego percebe que meu irmão está febril. Ele pode morrer.
O guarda não teve coragem de confessar que Artair estava de fato cego... mas pela bebedeira. Não havia como convencê-lo a entender a precária condição dos prisioneiros. Ninguém ousava agir sem o consentimento dele. Lembrá-lo da fúria de Parlan ao voltar e encontrá- los mortos apenas os fazia receber chibatadas. Não havia nada a fazer a não ser esperar o regresso de Parlan.
Com um suspiro, tornou a fechar a grade, retraindo-se diante da língua afiada do moleque. Como ele desejava que Artair estivesse em seu lugar para ser o alvo.
Se o patrão não voltar logo, só haverá um rapaz nesse buraco, e cheio de vingança, ele pensou.
Catarine Dunmore se espreguiçava tal qual uma gata contente com a caça. De fato, se passara um bom tempo até conseguir levar Black Parlan até sua cama, mas valera a pena.
Ele fazia seus antigos amantes parecer garotos desajeitados ou eunucos. Observando-o ao lado da janela, deixou que o olhar passeasse pela estrutura musculosa.
Agora que o tinha, não permitiria que ele fosse embora. Sua autoconfiança lhe garantia que uma noite em sua cama bastava para que ele permanecesse a seu lado.
— Volte para a cama, Parlan — ronronou, passando suavemente a língua pelos lábios quando ele se voltou para fitá-la.
Olhos negros estudaram a mulher na cama, sem expressão alguma. Parlan não gostava de Catarine, mas não tinha como negar que ela o satisfazia na cama. Havia, contudo, algo de repulsivo no apetite insaciável dela. Na verdade, não se importava com os sentimentos de Catarine, mas detestava ser visto apenas como a extensão de seu membro. Não duvidava de que ela conseguisse se satisfazer com qualquer objeto inanimado.
Suspirou silenciosamente ao se aproximar da cama onde ela revelava seus atrativos, que já não o apeteciam agora que suas necessidades tinham sido apaziguadas.
Notou a raiva que se instalou no belo rosto ao começar a se vestir e a formular suas despedidas. Se a insultasse, a ira dela seria imensurável, e ele não queria esse tipo de problema.
A família de Catarine ansiava por vê-la casada e isso tornava a situação um tanto perigosa. Parlan sabia, porém, que não podia reclamar. Sucumbira aos seus apelos meramente por desejar experimentar o talento pelo qual ela era conhecida.
Seis meses antes, ele teria voltado para a cama, pronto para mais. Nos últimos tempos, entretanto, vinha sofrendo com uma insatisfação incessante. Assim que seu desejo inicial era satisfeito, perdia o interesse pela mulher em questão. Aos vinte e oito anos de idade sabia que o problema não era sua  irilidade, mas sim o que ele desejava. E estava claro que não encontraria o que procurava nos braços de Catarine Dunmore.
— Não pode ir embora agora. Estamos no meio da noite.
— Logo o dia amanhecerá e preciso começar minha jornada até Dubhglenn — ele murmurou.
— Está mesmo indo embora? — Era muito difícil para Catarine deixar a raiva e a frustração de lado.
— Preciso. Estou ausente há mais de um mês e seria tolice deixar Artair encarregado por tanto tempo. — Franziu o cenho ao pensar nas besteiras que o irmão podia ter feito em sua ausência.
— Você não precisa se preocupar com a possibilidade de ele querer lhe roubar o poder.
— Sei que não. Mas ele age muito severamente e com pouco juízo. Tenho alguns projetos em andamento e não posso deixar que ele os arruíne.
Catarine sabia que não devia perguntar sobre esses projetos. Sentando-se na cama, puxou os cabelos de lado, deixando as curvas de seu corpo em evidência, uma maneira que ela sabia que atraía os outros homens. O jogo da conquista tinha terminado rápido demais, e ela precisava de mais tempo para enredá-lo. Sua família queria que ela se casasse novamente e Parlan MacGuin seria o par  perfeito. Não poderia acusá-lo de ter arruinado sua reputação, pois todos sabiam de suas andanças
desde que enviuvara dois anos antes. Entretanto, muitos outros caminhos levavam ao altar. Todos, porém, demandavam tempo. Não poderia deixar aquela oportunidade escapar. Infelizmente, tudo levava a crer que Parlan estivesse de saída.
— Ora, Parlan — ela sussurrou, de modo sedutor, esticando-se para afagá-lo intimamente —, o que é mais uma noite?
— Tempo demais — ele respondeu, sucinto, ao se afastar. — Está tudo pronto para a viagem, não posso ficar mais.
Cerrando os dentes para evitar a torrente de imprecações que desejava vociferar, ela perguntou:
— Quando pretende passar por aqui de novo?
Parlan perguntou-se se Catarine sabia o quanto estava sendo óbvia em suas intenções.
— Não sei dizer. Esta época do ano é muito atribulada.
— Logo eu terei de voltar para casa também — ela mentiu. — Quem sabe eu não fico alguns dias em
Dubhglenn?
— Se quiser. — Parlan desejou ardentemente que ela não o fizesse ao abaixar-se para lhe dar um beijo de leve. — Cuide-se, Catarine. Assim que ele partiu, Catarine liberou a fúria que sentia, destruindo o quarto. Jurou que Parlan não a usaria como se fosse uma garota de taverna qualquer. Concederia um tempo para ele cuidar dos negócios, e depois iria encontrá-lo. Uma vez instalada no castelo e na cama dele, tinha certeza de que venceria aquele jogo.
A madrugada recebeu Parlan no caminho para Dubhglenn. Ainda que ele apreciasse os prazeres da cidade, não gostava de ficar longe de casa por muito tempo. Se Artair fosse mais velho e menos impulsivo, seria enviado em algumas dessas viagens necessárias. Infelizmente, tinha certeza de que o irmão passaria o tempo nas tavernas em meio a mulheres e bebida. Isso o entristecia, mas era a razão por confiar mais no primo Lagan Dunmore do que no próprio irmão. Só podia esperar que durante
sua ausência, Artair não tivesse feito nada irreparável. Assim que entrou no pátio interno de Dubhglenn dois dias mais tarde, soube que algo estava errado. As pessoas o receberam com jovialidade, mas também com um alívio mal disfarçado. Parecia que precisavam lhe contar
algo, mas ninguém tinha coragem o suficiente. Ele estava prestes a pedir explicações quando viu o garanhão.
Sem conseguir falar, de tanta admiração, não perguntou de onde vinha o belo animal, apenas o observou. Pelo menos um palmo mais alto que seu cavalo, era uma montaria impressionante. As linhas do corpo indicavam que era um animal veloz. O pelo era imaculadamente branco. Estava pronto a experimentar até onde a tensão que emanava do cavalo poderia levá-lo, quando Malcolm
e Lagan entraram em Dubhglenn.
— Viram este animal espetacular? — Parlan perguntou, lentamente dando-se conta da tensão nos dois homens.
— Sim, eu o vi — Malcolm virou-se na direção de alguns homens que estavam por perto. — Como estão os rapazes?
— Nada bem. O mais velho está doente e o mais novo lançou-nos a praga dos infernos.
— Acho que nós a merecemos — Lagan interveio. — Não foi feito nada, ninguém cuidou deles?
— Receberam água e comida regularmente — outro homem informou.
— Levei uma manta extra ontem à noite, mas o jovem disse que ela servirá apenas como mortalha.
— Já chega! — O silêncio se fez com o comando de  Parlan. — De que rapazes estão falando?
— Artair fez uma incursão nas terras dos Fergueson — Lagan explicou, sabendo que isso desgostaria
Parlan, pois fora realizada sem seu consentimento. — Na volta, encontrou com dois rapazes com as cores dos Mengue e os capturou.
— São muito jovens?
— Um deve ter uns vinte anos. Pode ser considerado homem por alguns, mas ainda é um menino a meu ver. O outro não tem mais do que doze.
— Qual o montante do resgate pedido?
— Nenhum — Lagan respondeu a contragosto. — Eles estão apodrecendo no calabouço à espera do seu retorno para que você decida isso.
Malcolm e Lagan seguiram Parlan conforme ele avançava pelo castelo. Quando ele perguntou sobre o paradeiro de Artair e foi informado de que o irmão ainda dormia sob os efeitos do álcool, libertou a fúria incontida.
Homens outrora corajosos abriram caminho em direção ao calabouço.
A grade foi aberta e Parlan vasculhou o buraco, com uma lanterna na mão, tentando enxergar algo na escuridão. Um rapazola segurava a cabeça de outro maior, evidentemente doente, no colo e chorava em silêncio. De repente, o menor notou a presença deles e levantou o olhar. Mesmo marcado por sujeira e lágrimas, o rosto era de uma beleza delicada, estranha para um menino. E essa beleza nem diminuiu pela expressão furiosa com que o recebeu. Parlan notou tudo isso enquanto tentava controlar a raiva que sentia do irmão.
Em qualquer outra instância, o rosto sombrio e imponente que a fitava deixaria Aimil temerosa, mas não havia como hesitar com seu irmão moribundo nos braços.
— Abutres! Malditos! Chegaram cedo demais para se refestelarem com o cadáver dele.
— Tire-os daí. Agora! — Parlan comandou ao se afastar da abertura do calabouço, a voz carregada de raiva.
Por um instante Aimil pensou ter ouvido mal. Parecia que, finalmente, o temido Black Parlan estava ali em pessoa, distribuindo ordens numa voz semelhante à de uma fera. Preocupada com o estado do irmão, sequer passou por sua cabeça que ela também seria removida dali. Depois que suspenderam Leith, ela começou a se sentar novamente.
— Você também, rapaz — Parlan avisou, tentando parecer calmo, a fim de não sobressaltar o menino.
Aimil bateu nas mãos que tentaram ajudá-la e subiu pela corda sozinha. O tempo passado naquele buraco onde mal havia espaço para se deitar tinha lhe tirado parte das forças, mas recusava-se a deixar que notassem isso. Na verdade, havia se exercitado diversas vezes naqueles dias, procurando se fortalecer para que pudesse ajudar Leith. Aquilo havia servido aos seus propósitos, fazendo com que ela, agora, conseguisse se manter de pé sem oscilar demais. A última coisa que queria era que
aqueles homens percebessem o quanto ela estava fraca.
— Não me toque, seu porco! — sibilou, quando alguém tentou ajudá-la ao se afastarem do calabouço.
Parlan não estava acostumado a esse tipo de tratamento, mas reprimiu seu descontentamento. Mais tarde até poderia encontrar motivos para se divertir com o comportamento inusitado do menino imundo. Naquele instante, porém, só queria consertar os estragos da situação criada por Artair. A despeito da sujeira, as vestimentas dos dois prisioneiros revelavam que eles tinham alguma posição de prestígio no clã dos Mengue. Um incidente como aquele poderia se transformar facilmente numa rixa entre gerações. A última coisa que ele queria ou necessitava.
Ao chegarem a um dos quartos do castelo, começaram a cuidar de Leith com presteza. Aimil ficou fora do caminho, mas observava atentamente cada movimento.
Ainda que os cuidados houvessem tardado, ela estava grata pela rapidez com que tinham despido, banhado e deitado seu irmão numa cama limpa e confortável. Como por milagre, os ferimentos não tinham infeccionado, apesar de não terem se fechado como deveriam. Leith ainda corria risco de morte.
— Diga-me seus nomes — Parlan ordenou. Aimil não se recolheu diante do olhar penetrante
do senhor do castelo.
— Shane e Leith Mengue. Esse que quase mataram é Leith.
Praguejando uma vastidão de impropérios, Parlan continuou a ajudar a cuidar dos ferimentos do rapaz. Mesmo se ele vivesse, o que parecia possível, o tratamento dispensado ao herdeiro dos Mengue poderia desencadear a contenda que ele tanto temia. O mais jovem deles parecia estar disposto a começá-la.


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