9 de novembro de 2010

Inocente Mordida - Lynsay Sands

Úi!!!


Inocente Mordida
Autora: Lynsay Sands


Editora: Nova Cultural
Assunto: Literatura Estranegria / Romance Sobrenatual / Banca
Edição 921
Série: Bianca

Lançamento: 13/10/2010



- Sinopse:


O pretendente perfeito...

Faz séculos que Lissiana está à procura do homem perfeito, para ter uma relação duradoura, não apenas um caso passageiro. Mas antes, ela tem um problema mais urgente para resolver: sua tendência a desmaiar toda vez que vê sangue... uma fraqueza um tanto irritante, specialmente para uma vampira! A mãe dela acredita ter a solução perfeita, e trata de providenciar um terapeuta, de uma forma um tanto... não convencional. O fato de o dr. Gregory Hewitt ser atraente e sexy e ter um pescoço tentador não é de se desprezar... Afinal, qual vampira que se preze iria resistir a uma mordida tão suculenta?

Gregory se recupera do susto de acordar na cama de uma desconhecida, no momento em que põe os olhos na mulher maravilhosa que está prestes a lhe proporcionar uma ardente noite de paixão... Mas será possível para o bom doutor encontrar o amor verdadeiro ao lado de uma vampira que tem medo de sangue, ou ele servirá apenas como uma bela refeição? Essa é uma pergunta à qual Greg está disposto a responder... se conseguir convencer Lissiana a dar a primeira mordida...

______

- Leia Um Trecho :


Prólogo

— É só um jantarzinho.
— Hum... — Em pé, mantendo o fone entre o ombro e o pescoço, Greg Hewitt estava arrumando a mesa para sair do consultório.
A voz de Anne adotara um tom lisonjeiro, o que era sempre um mau sinal. Greg balançou a cabeça enquanto a irmã prosseguia, relatando os planos para o jantar e tentando convencê-lo a participar.
Notou que ela não mencionara quem mais estaria presente, mas já suspeitava. Os convidados seriam Anne, o marido dela, John, e alguma outra amiga que ela tentaria jogar nos braços do irmão mais velho e ainda solteiro.
— E então?
Greg interrompeu o que fazia e segurou o aparelho de telefone. Obviamente, havia perdido algo.
— Então o quê?
— A que horas você estará aqui amanhã?
— Eu não irei. — Antes que ela pudesse reclamar, acrescentou depressa: — Não posso. Vou viajar.
— Como? Por quê? Aonde está indo?
— México. Vou sair de férias. Por isso liguei para você. Meu voo parte amanhã cedo para Cancún. — Sabendo que a surpreendera, Greg deu um sorrisinho enquanto vestia o terno que tirara ao chegar ao consultório.
— México? Férias?
Ele não sabia se considerava o espanto de Anne divertido ou triste. Aquelas eram as primeiras férias que tirava desde que abrira o consultório, oito anos atrás.
— Ouça, eu preciso ir. Mandarei um cartão-postal do México. Até mais. — Ele desligou antes que a irmã pudesse responder.
Pegando sua pasta, saiu do consultório. Não ficou surpreso ao ouvir o telefone tocar enquanto trancava a porta. Anne era persistente.
Sorrindo de leve, ignorou o telefone e guardou as chaves no bolso enquanto se dirigia ao elevador.
O dr. Gregory Hewitt estava agora oficialmente de férias.
Sentiu-se relaxar cada vez mais, conforme se afastava do consultório.
Estava até mesmo assoviando quando entrou no elevador e virou-se para apertar o botão da terceira garagem. Porém, deteve- se e estendeu a mão para manter a porta aberta ao ver uma mulher apressando-se naquela direção. Nem precisava ter se incomodado.
Ela foi rápida e conseguiu entrar antes de as portas se fecharem.
Baixando a mão, Greg afastou-se do painel para que ela pudesse pressionar o botão do andar ao qual se dirigia. Espiou-a rapidamente quando ela se moveu à sua frente, imaginando de onde a mulher surgira. O corredor estava vazio quando ele passara, e
não tinha ouvido nenhuma porta se abrir ou fechar. Havia vários escritórios no mesmo andar do seu, e ela podia ter saído de qualquer um deles. No entanto, ele tinha certeza de nunca tê-la visto por lá.
Greg mal vislumbrara o rosto da desconhecida quando ela entrara no elevador, e as feições eram indistintas em sua memória.
Mas os olhos azuis, com um brilho prateado, chamaram sua atenção. Raros e muito bonitos, era provável que fossem lentes.
Ao pensar nisso, perdeu qualquer interesse. Apreciava belas mulheres, e não tinha nenhuma objeção ao fato de elas se esforçarem para realçar a beleza, mas quando chegavam a esse nível de artifício, ele tendia a se desinteressar.
Voltando seus pensamentos para as férias, recostou-se à parede do elevador. Planejara várias atividades. Nunca fora a um lugar como o México, e desejava aproveitar ao máximo. Além de descansar na praia, também pretendia fazer parasailing, mergulho, e
talvez até um daqueles passeios de barco nos quais era possível alimentar golfinhos. Também queria ir ao museu Casa Maya, um parque ecológico que reproduzia o modo de vida dos maias de séculos atrás e onde se podia caminhar e ver os animais. E ainda
havia a vida noturna. Se tivesse ânimo após tantas atividades diurnas, talvez fosse a um daqueles bares onde pessoas seminuas dançavam ao som de música ensurdecedora.
A campainha do elevador afastou a imagem de dançarinas seminuas de sua mente. Olhando para o painel, viu que registrava a terceira garagem. Seu andar.
Meneando a cabeça com educação para sua acompanhante, ele saiu do elevador para o estacionamento enorme e quase vazio. Ainda pensando nas dançarinas, levou um momento para notar o som de passos atrás de si. Quase olhou por sobre o ombro, para ver de quem se tratava, mas percebeu que o som era o de saltos altos, ecoando no local deserto. A morena também devia ter estacionado naquele piso.
Ele olhou para o local onde deveria estar seu carro, mas reparou na grande placa, indicando que estava na primeira garagem, e ficou confuso. Os primeiro e segundo andares do estacionamento eram reservados aos visitantes. Ele estacionara no terceiro,
e tinha certeza de ter lido isso no painel do elevador... Pelo jeito, se enganara. Parou, com a intenção de voltar ao elevador. Este é o piso certo. O carro está logo ali.
— Sim, é claro — Greg murmurou e seguiu em frente, dirigindo-se ao único veículo no local.
Só quando abriu o porta-malas, ocorreu-lhe que aquele pequeno esportivo vermelho não era seu. Ele dirigia um BMW azul escuro. Porém, tão depressa quanto o pensamento alarmante veio à sua mente, desvaneceu-se, como névoa sob a brisa. Relaxando, ele colocou sua pasta no veículo, entrou no portamalas, ajeitou-se no pequeno espaço.
___


Capítulo I

— Seu cabelo tem um cheiro bom...
— Hum... obrigada, Bob. — Lissiana Argeneau espiou o estacionamento que atravessavam, ficando aliviada ao notar que estavam sozinhos. — Mas será que pode tirar a mão do meu traseiro?
— Dwayne.
— Hein? — Ela o fitou, confusa.
— Meu nome é Dwayne — ele disse com um sorriso.
— Ah... Bem, Dwayne, poderia tirar a mão do meu traseiro?
— Pensei que gostasse de mim. — Ele manteve a mão na nádega esquerda dela, apertando-a de um modo amigável demais. Resistindo à vontade de bater na cabeça dele e arrastá-lo para o mato como o Neandertal que ele era, Lissiana forçou-se a sorrir.
— E gosto, mas vamos esperar até chegar ao seu carro para...
— Ah, sim, meu carro — interrompeu ele. — Sobre isso...
Lissiana parou e se virou para ele, estreitando os olhos ao ver o desconforto na expressão do rapaz.
— O que foi?
— Eu não tenho um carro — admitiu Dwayne.
Ela piscou, digerindo a informação. Todo mundo acima dos vinte anos possuía um carro no Canadá. Bem, quase todos. Certo, talvez isso fosse um exagero, mas a regra se aplicava à maioria dos solteiros. Era como uma lei não escrita. Antes que pudesse
fazer um comentário, ele acrescentou:
— Pensei que você tivesse um.
Aquilo soou quase como uma acusação. Lissiana franziu o cenho. Houvera um tempo em que o homem teria um carro ou, ao menos, assumiria a responsabilidade de encontrar um lugar para que ficassem a sós. Agora ele parecia desgostoso, como se ela
o tivesse desapontado por não ter um carro.
— Eu tenho um carro — ela disse, na defensiva. — Mas vim para cá com meus primos e com uma amiga.
— A garota do cabelo cor de rosa?
— Isso. Mirabeau.
Ela considerou o problema. Dwayne não tinha carro, e Thomas trancara o jipe. Talvez pudesse voltar ao bar, encontrar o primo e pedir as chaves, mas não queria usar o carro dele para...
— Bem, não tem problema. Gosto do ar livre.
Lissiana espantou-se quando ele a puxou pelo quadril. Por instinto, ela se inclinou para trás, afastando a parte superior de seus corpos. Isso não impediu que a parte de baixo fosse esmagada contra a dele. De repente, ficou claro que ele, de fato, não se incomodava em ficar ao ar livre. Pelo contrário. A rigidez que a pressionava mostrava que aquilo o excitava. Já ela não via graça na ideia, ao menos não durante o inverno canadense.
— Venha. — Soltando seus quadris, Dwayne segurou-a pela mão e levou-a para os fundos do estacionamento. Só quando ele a arrastou para trás das enormes lixeiras a um
canto, Lissiana percebeu-lhe as intenções. Contendo um comentário sarcástico sobre o romantismo dele, decidiu agradecer o fato de estarem no início do inverno. Embora ainda não tivesse nevado, fazia frio o bastante para o odor da comida que apodrecia dentro das lixeiras não se espalhar.
— Aqui está bom. — Dwayne a encostou contra o metal de uma das latas e apertou-se contra ela.
Lissiana suspirou, desejando não ter esquecido o casaco. Era mais imune ao frio do que as pessoas comuns, mas não completamente. O metal às suas costas estava sugando o calor de seu corpo, forçando-o a trabalhar mais para mantê-la aquecida.
Faminta e desidratada como estava, isso era a última coisa de que precisava.
O súbito ataque da boca do rapaz à sua a convenceu de que estava na hora de tomar as rédeas da situação. Ignorando a língua que tentava enfiar-se em sua boca fechada, ela o pegou pela jaqueta e o girou, batendo as costas dele contra a lixeira com um pouco mais de força do que pretendera quando inverteu as posições.
— Uau! — Ele riu. — Uma mulher selvagem.
— Você gosta, não é? Então vai adorar isso. — Deslizou os dedos até a nuca de Dwayne e segurou-o pelos cabelos. Inclinando-lhe a cabeça, levou a boca até o pescoço dele.
O rapaz murmurou de prazer ao sentir seus lábios percorrerem a jugular. Encontrando o melhor lugar para o que pretendia, Lissiana abriu a boca e respirou fundo pelo nariz enquanto seus caninos afiados se estendiam. Em seguida, enterrou-os no pescoço de Dwayne. Ele se enrijeceu, apertando-a por um breve instante. Porém, logo começou a relaxar contra a lixeira, enquanto Lissiana lhe transmitia as sensações que estava experimentando: a satisfação quando o sangue passava por seus dentes, entrando em sua circulação, a agitação atordoante enquanto o corpo absorvia a nutrição de que precisava. Aquilo provocava também uma leve tontura, que não era desagradável. Ela imaginava que fosse parecido ao que as pessoas sentiam ao ingerir drogas.
Entretanto, não se tratava de droga para ela, e sim de vida. Ouviu Dwayne gemer de prazer. Ela mesma quase gemeu ao sentir as câimbras em seu corpo começarem a sumir. Contudo, percebeu que isso estava acontecendo de forma lenta demais. Havia algo errado.
Ainda com os dentes no pescoço dele, começou a vasculhar-lhe a mente. Não demorou para descobrir o problema. Dwayne não era tão saudável quanto parecia. Na verdade, nada nele era o que parecia. Por meios dos pensamentos dele, soube que a rigidez pressionando seu ventre era um pepino que ele colocara sob a calça; os ombros largos, resultado de ombreiras; o atrativo bronzeado havia sido conseguido por cosméticos, para esconder a palidez causada por... anemia.
Praguejando, ela o soltou. Seus dentes se retraíram, enquanto o encarava. Foi apenas o instinto que a levou a inserir-se na mente dele para rearranjar-lhe as lembranças. Estava tão brava com o sujeito...
E com Mirabeau também. Afinal, fora por insistência da amiga que tinha levado o rapaz até ali para um lanchinho. Sabendo que sua mãe devia ter preparado algo, Lissiana queria esperar até chegar à sua festa de aniversário para se alimentar. Porém, Mirabeau e a prima Jeanne Louise haviam dito que sua palidez excessiva levaria Marguerite Argeneau a alimentá-la por via intravenosa assim que chegasse em casa. Quando Dwayne começara a paquerá-la, Lissiana deixara-se persuadir a fazer um lanche. E agora talvez tivesse um problema. Levara algum tempo para detectar que havia algo errado, e outros tantos minutos até definir o que era. Só esperava não ter tomado muito sangue dele nesse período.
Finalizando a organização das memórias de Dwayne, encarou-o entre irritada e preocupada. Ele parecia pálido, apesar do bronzeado artificial, mas ainda estava de pé. Tomando-lhe o pulso, relaxou um pouco. Embora um pouco acelerado, estava forte. Pela manhã, ele estaria bem. Mas não se sentiria bem por algum tempo, o que ele merecia, por querer enganar as garotas com aqueles artifícios.
As pessoas podiam ser muito tolas, pensou, aborrecida. Como as crianças, que brincavam de se arrumar para fingirem ser mais velhas, os adultos usavam enchimentos, cintas ou silicone para ser algo que não eram de verdade e que acreditavam ser atraente.
Por que não entendiam que, mantendo-se autênticos, seriam bons o bastante para as pessoas certas?
Lissiana colocou na cabeça de Dwayne a ideia de que ele saíra em busca de ar fresco por ter se sentido mal. Certificou-se de instruí-lo a ficar ali até melhorar, e depois tomar um táxi para casa. Fez com que fechasse os olhos enquanto apagava sua imagem da memória dele. Quando concluiu a tarefa, deixou-o de pé, oscilante, e contornou as lixeiras.
— Lissi? — Um vulto cruzou o estacionamento em sua direção.
— Padre Joseph. — Erguendo as sobrancelhas, ela foi ao encontro do idoso. O padre era seu chefe no abrigo onde ela trabalhava no turno da noite. Bares não eram o ambiente dele. — O que está fazendo aqui?
— Bill disse que havia um garoto novo nas ruas. Ele acha que o menino tem doze ou treze anos, e que está comendo restos nas lixeiras daqui. Pensei em procurá-lo e convencê-lo a ir para o abrigo.
— Ah... — Lissiana olhou ao redor. Bill era um dos freqüentadores do abrigo e costumava indicar quem precisava de ajuda.
Se ele dissera que havia um garoto novo nas ruas, era verdade. Ele era confiável. E padre Joseph também era, ao sair em busca daquelas pessoas desorientadas na esperança de chegar até elas antes que se envolvessem com drogas ou prostituição. — Eu
ajudo. Ele deve estar por aqui. Vou...
— Não, não! Essa é sua noite de folga. Além disso, nem está agasalhada. O que está fazendo aqui fora sem um casaco?
Ela olhou para trás, ao ouvir uma pancada soar nas latas. Um rápido acesso aos pensamentos de Dwayne lhe disse que ele batera a cabeça na lixeira ao se apoiar nela. Idiota... Voltou-se e, ao ver o padre espiando as lixeiras, falou depressa para distraí-lo:
— Esqueci uma coisinha no carro do meu primo. — Era uma mentira deslavada. Torceu para que ele não tivesse reparado de onde exatamente ela saíra e que pensasse que estivera no carro preto estacionado ao lado das lixeiras. Sem querer mentir ainda mais, esfregou os braços. — Minha nossa, o senhor tem razão. Está mesmo frio.
— Sim. É melhor que volte para dentro.
Assentindo, ela lhe desejou boa-noite e se afastou. Apressou-se pelo estacionamento, contornou o bar e só parou quando chegou ao interior barulhento e cheio.
Thomas não estava à vista, mas, graças às pontas fúcsia nos cabelos negros, foi fácil localizar Mirabeau, sentada ao balcão do bar com Jeanne Louise.
— Bem, você está... — Mirabeau hesitou enquanto Lissiana se aproximava, mas por fim concluiu: — ...igual. O que houve?
— Anêmico — ela informou, aborrecida.
— Mas ele parecia tão saudável! — Jeanne Louise contestou.
— Ombreiras, e um falso bronzeado. E isso não é tudo.
— O que mais podia haver? — indagou Mirabeau.
— Ele tinha um pepino na calça — Lissiana retrucou.
Jeanne Louise riu, mas Mirabeau resmungou:
— Devia ser um pepino holandês. Aquilo parecia enorme.
— Você olhou? — indagou Lissiana, boquiaberta.
— Você não?
Lissiana apenas meneou a cabeça e olhou ao redor.
— Onde está Thomas?
- Aqui.
Ela virou ao sentir a mão do primo em seu ombro.
— Eu ouvi direito? Seu Romeu estava com um pepino escondido na calça? — ele perguntou, divertido, afagando-lhe o ombro.
— Você pode imaginar? — ela indagou, desgostosa.
Thomas riu.
— O pior é que sim. Primeiro, as mulheres usaram enchimento no sutiã, agora os homens usam nas cuecas. Mas que mundo...
Lissiana se viu sorrindo e acabou deixando a irritação para trás. Não estava chateada por causa do pepino; nem sequer se interessara por Dwayne. Diabos, na verdade, nem mesmo quisera levá-lo para fora. Estava apenas aborrecida com a perda de tempo e com o fato de que gastara mais energia para se manter aquecida do que o sangue enfraquecido do sujeito tinha fornecido. O passeio apenas exarcebara sua fome.
— Quanto tempo até irmos para a casa da mamãe? — questionou, esperançosa. Os primos e a amiga haviam decidido levá-la para dançar antes de irem para a festa de aniversário que a mãe planejara para ela. A ideia a tinha agradado quando estivava só com fome; agora estava esfomeada e ansiosa para chegar à festa e ter acesso ao que sua mãe ofereceria. Nesse momento, aceitaria até mesmo a alimentação intravenosa, algo que odiava.
— Mal passou das nove horas — anunciou Mirabeau, olhando o relógio. — Marguerite disse que só devíamos levá-la para lá após as dez.
— Hum... E alguém sabe por que a festa vai começar tão tarde? — Lissiana indagou, desgostosa.
— Tia Marguerite disse que ia buscar algo para você na cidade, e que só poderia fazer isso após as nove — explicou Thomas.
— Depois ainda tinha que dirigir de volta.
— Ela deve ter ido pegar seu presente — supôs Mirabeau.
— Acho que não — opinou Thomas. — Ela falou algo sobre alimentar Lissiana. Suspeito que se trate de uma sobremesa especial, ou algo assim.
— Uma sobremesa especial? — perguntou Jeanne Louise, interessada. — Na cidade, depois das nove? Um docinho, será?
— Deve ser — concordou Lissiana, sorrindo ante a perspectiva. Ela herdara da mãe o amor aos doces, e nada era melhor do que um docinho, que era como se referiam aos diabéticos ainda não diagnosticados, com altos níveis de açúcar no sangue.
Eram raros, e ficavam cada vez mais difíceis de achar, pois logo depois elas colocavam na cabeça da pessoa a ideia de procurar o médico e fazer um exame de sangue, o que excluía mais um docinho do cardápio.
— Pode ser — Thomas comentou. — Isso explicaria a disposição de tia Marguerite para dirigir em Toronto. Ela odeia dirigir na cidade, e sempre evita fazer isso.
— Se é que dirigiu — acrescentou Mirabeau. — Ela pode ter pedido que Bastien enviasse um dos carros da empresa com um motorista para levá-la.
Thomas balançou a cabeça ao ouvir o nome do irmão de Lissiana, o líder das empresas Argeneau.
— Não, ela mesma dirigia, e não estava nem um pouco satisfeita.
— E então, em quanto tempo podemos ir? — Lissiana insistiu, impaciente.
— Hoje é sexta-feira, e o tráfego pode estar ruim, com todos saindo da cidade para o fim de semana — ele refletiu. — Acho que dentro de uns quinze minutos já poderemos ir, sem chegar muito cedo.
— E que tal se sairmos agora, e você dirigir devagar?
— Somos assim tão entediantes? — ele perguntou, divertido.
— Não são vocês, mas este lugar. É como um açougue — Lissiana observou, com uma careta.
— Tudo bem, menina. — Thomas desarrumou-lhe o cabelo com afeição. Era quatro anos mais velho que ela, e muito mais parecido com um irmão do que os seus irmãos de fato. — Vamos embora. Vou tentar dirigir devagar.
— Claro. — Jeanne Louise bufou. — Como se isso fosse acontecer.
Lissiana sorria enquanto pegavam os casacos e se dirigiam à saída. Thomas gostava de correr, e ela sabia que Jeanne Louise estava certa. Não tinha dúvida de que chegariam cedo e aborreceriam sua mãe, mas estava disposta a se arriscar.
Já tinha se esquecido de padre Joseph ao sugerir que saíssem, mas não viu sinal dele no caminho até o jipe de Thomas. Ou ele desistira ou estava procurando em outro lugar. Voltou a pensar em Dwayne e olhou para as lixeiras quando Thomas passou por elas, vasculhando as sombras em busca do sujeito. Ele também não estava ali. Ficou um pouco surpresa pela rápida recuperação, mas logo deixou o assunto de lado. Como ele não estava inconsciente no meio do estacionamento, era óbvio que arrumara um táxi para casa.
O tráfego não estava ruim, afinal. O horário já era avançado o bastante para que o pior tivesse passado. Portanto, chegaram à casa da mãe dela, nos subúrbios de Toronto, bem rápido.
Até demais.
— Estamos meia hora adiantados — Jeanne Louise avisou, quando Thomas estacionou atrás do pequeno esportivo vermelho de Marguerite.
— Sim. — Ele deu de ombros. — Mas ela não vai se importar.
— Quer dizer, ela não vai se importar depois que você a encantar com todo o seu charme. Você sempre consegue conquistar tia Marguerite — comentou Jeanne Louise.
— E por que você acha que eu gostava tanto de sair com Thomas quando éramos mais jovens? — indagou Lissiana, divertida.
— Ah, entendi! — Thomas riu, enquanto saíam do carro. — Então, essa é a verdade. Você só gosta de mim porque lido bem com a sua mãe.
— Bem, você não acreditou que fosse por eu gostar de estar com você, não é? — provocou, ao vê-lo dar a volta no veículo e aproximar-se dela.
— Aquele não é o carro de Bastien? — Mirabeau perguntou. Lissiana olhou ao redor, divisou a Mercedes escura do irmão e assentiu.
— Parece que sim.
— Imagino se mais alguém está aqui — disse Jeanne Louise.
— Não vejo nenhum outro carro. Mas creio que Bastien pode ter arranjado veículos da empresa para deixar os convidados — supôs Lissiana.
— Se ele fez isso, duvido de que as pessoas tenham chegado — Mirabeau falou ao alcançarem a porta da frente. — Não é elegante chegar na hora marcada. Só gente deselegante é pontual.
— Acho que somos deselegantes — Lissiana comentou.
— Não, estamos apenas lançando tendências — anunciou Thomas, e todos riram.
Bastien abriu a porta ao ouvi-los aproximando-se.
— Pensei ter ouvido um carro.
— Bastien, rapaz! — Thomas saudou-o, ruidosamente, e deu-lhe um abraço que o fez enrijecer-se com a surpresa. — Como é que está, hein?
Lissiana teve que morder o lábio para conter o riso, e olhou para Jeanne Louise e Mirabeau, que também estavam tendo dificuldades para se manter sérias ante a súbita mudança de Thomas. Em um instante, ele tinha passado de adulto a adolescente.
— Sim... Bem... Olá, Thomas. — Bastien conseguiu se soltar do exuberante primo mais jovem. Como sempre, parecia desconfortável, sem saber como lidar com o rapaz. E era por isso que Thomas agia daquele jeito. Ele sabia que os dois irmãos mais velhos de Lissiana, um com quatrocentos anos, e o outro com seiscentos, tendiam a vê-lo como um moleque, o que o incomodava.
Ser considerado pouco mais que uma criança, tendo mais de duzentos anos, podia ser bastante aborrecido. Portanto, agia como um garoto perto deles, o que os deixava constrangidos e lhe dava uma vantagem. Os irmãos dela sempre o subestimavam por causa dos próprios preconceitos.
Sendo vítima do mesmo preconceito, Lissiana compreendia Thomas. Também gostava de ver seus irmãos desconcertados.
— Então, cadê a festa? — Thomas indagou, alegremente.
— Ainda não começou. Vocês são os primeiros a chegar.
— Não! Você foi o primeiro a chegar — Thomas o corrigiu.
— E não sabe como isso me deixa aliviado. Porque, se tivéssemos sido os primeiros, seríamos deselegantes, de acordo com Mirabeau. Mas não fomos; você é quem foi.
Lissiana tossiu para encobrir a risada que lhe escapou quando seu irmão percebeu que tinha acabado de ser chamado de deselegante. Ao se controlar, viu que Bastien estava tenso e aborrecido.
Ficou com pena e indagou:
— Onde está a mamãe? Podemos entrar, ou devemos esperar aqui fora por mais quinze minutos?
— Não, não... Podem entrar. — Bastien afastou-se para dar-lhes passagem. — Eu acabei de chegar, e mamãe subiu para se trocar depois de me deixar entrar. Ela deve estar de volta em poucos minutos. Talvez vocês devam esperar na sala de jogos. Ela pode não querer que vejam a decoração até que todos estejam aqui.
— Tudo bem — concordou Lissiana, passando por ele.
— E aí, quer jogar uma sinuca? — Thomas convidou, acompanhando a prima.
— Não. Obrigado, Thomas, mas tenho que cuidar dos convidados que chegarem cedo até que mamãe esteja pronta. — Bastien se afastou enquanto falava. — Vou dizer a ela que vocês estão aqui.
— Ele me adora — concluiu Thomas, rindo, quando Bastien saiu. Conduziu-as até a sala de jogos à direita. — Venham, vamos jogar. Alguma de vocês está disposta para uma partida de sinuca?
— Eu estou — Mirabeau se ofereceu, acrescentando: — Lissi, sua meia está com um fio puxado.
— Hein? — Lissiana parou, olhando para suas pernas.
— Atrás, à direita — informou Mirabeau.
— Eu devo ter prendido na lixeira — ela resmungou, vendo o longo rasgo atrás do joelho.
— Na lixeira? — Thomas demonstrou interesse.
— Não pergunte — ela disse com irritação. — Vou ter que trocar antes do começo da festa. Por sorte, mamãe insistiu que eu deixasse algumas roupas no meu antigo quarto quando me mudei. Devo ter um par de meias. Vão jogando que eu já venho.
— Volte logo — Thomas falou, enquanto ela subia correndo as escadas.
Lissiana apenas acenou por sobre o ombro antes de chegar ao andar de cima, mas, enquanto se dirigia ao seu antigo quarto, pensou que aquele era um bom conselho. Marguerite não ficaria contente por terem chegado cedo, porém Thomas logo afastaria a
irritação que ela poderia sentir. Por isso, seria melhor estar junto com ele e os demais quando a encontrasse.
— Covarde — censurou-se. Tinha mais de duzentos anos, idade suficiente para deixar de se preocupar em aborrecer a mãe. — É claro. — Sabia que ainda se preocuparia com isso quando tivesse seiscentos. Precisava apenas olhar para os irmãos para saber.
Eles eram independentes e ainda se preocupavam em não aborrecer Marguerite Argeneau. — Deve ser de família — concluiu, abrindo a porta do quarto. Começou a entrar, mas parou com os olhos arregalados ao ver o homem na cama. — Desculpe, quarto errado — murmurou, e tornou a fechar a porta.
Ficou parada no corredor, até perceber que não tinha se enganado. Aquele era o seu quarto. Passara várias décadas dormindo ali. Só não sabia por que havia um homem lá dentro. Ou, mais importante, por que ele estava amarrado à cama. Refletiu sobre o assunto por um momento. Sua mãe não aceitaria um pensionista e, se aceitasse, não deixaria de avisar os filhos. Nem o colocaria em seu antigo quarto, que ela ainda usava,
embora raras vezes. Além disso, o fato de estar preso afastava a possibilidade de que fosse um hóspede voluntário. Assim como o laço no pescoço, pensou, lembrando-se do colorido que avistara sob o queixo dele quando o homem erguera a cabeça para fitá-la.
Foi esse detalhe, o laço, que a fez relaxar, percebendo que aquele devia ser o presente que a mãe fora buscar. O docinho que Jeanne Louise sugerira. Embora ele parecesse bastante saudável...
Mas não havia como saber, até chegar perto o bastante para sentir o cheiro adocicado que os diabéticos não tratados exalavam. De fato, o sujeito era um bolo de aniversário ambulante. E bastante apetitoso: moreno, com olhos penetrantes e inteligentes, o nariz reto, o queixo forte... O corpo também era muito bonito. Ele parecia alto, esbelto e musculoso, esticado na cama.
Claro que, após a experiência com Dwayne, Lissiana tinha consciência de que podia haver algum enchimento no casaco. Não procurara por pepinos, mas ele não estava bronzeado e, mesmo assim, não parecia anêmico. E era improvável que sua mãe caísse
no mesmo engano que ela. Marguerite se certificaria de que ele era exatamente o que queria. Jeanne Louise devia ter razão: o homem tinha diabetes não tratada. Era a única resposta possível.
Marguerite não iria dirigir até a cidade em busca de um sujeito saudável comum, se podia pedir uma pizza e deixar o entregador para Lissiana, que era o que costumava fazer.
Portanto, ele era doce, concluiu, sentindo o estômago roncar.
Bem que gostaria de dar uma mordidinha; só um pouquinho, para experimentar, antes que a mãe lhe entregasse o presente. Tentou afastar a ideia. Nem mesmo Thomas conseguiria acalmar sua mãe se ela fizesse isso. Logo, voltar e dar uma mordida estava
fora de questão, mas ela ainda precisava trocar as meias. Sabia que deveria voltar para a sala de jogos sem elas, mas pensou que, uma vez que a surpresa já fora arruinada, seria tolice ficar a noite toda com as meias desfiadas. Estava ali, e só levaria um instante para pegar um novo par.
Greg olhou para a porta fechada. Não acreditava que alguém abrira a porta, obviamente espantando-se ao vê-lo ali, e depois, desculpando-se, tornara a fechá-la enquanto ele tinha ficado deitado como um idiota, surpreso demais para dizer algo. Não que tivesse tido muita chance de reagir, mas ainda assim...
Os músculos do pescoço começaram a doer no esforço de manter a cabeça erguida para olhar a porta. Suspirando, deitou de volta no travesseiro e começou a amaldiçoar a própria estupidez.
Percebera aquela noite que era um completo idiota. Nunca pensara em si mesmo nesses termos. Pelo contrário, sempre se achara um tanto inteligente. Porém, isso fora antes de entrar no porta-malas de uma estranha e se trancar lá dentro, sem nenhum motivo.
— Sem dúvida, uma atitude idiota — resmungou, mas talvez “insana” fosse uma descrição melhor. Estupidez seria ter se trancado acidentalmente em um porta-malas. Entrar e fechá-lo com calma combinava melhor com insanidade. Notou também que estava começando a falar sozinho. Pelo jeito, tinha perdido o contato com a realidade. Imaginou quando perdera o juízo e como isso acontecera.
Talvez insanidade fosse algo contagioso, que pudesse ter pegado de um de seus pacientes. Não que já tivesse diagnosticado alguém como insano. Lidava, em sua maioria, com fóbicos, embora também cuidasse de alguns poucos com outras dificuldades.
Talvez tivesse as sementes dentro de si o tempo todo e, naquela noite, a loucura por fim havia florescido. Ou, quem sabe, fosse de família. Falaria com a mãe a respeito, para descobrir se tinha algum maluco na árvore genealógica. Não era apenas o fato de ter entrado no porta-malas que o incomodava. Aquela havia sido a primeira ação insensata da noite, e ele tinha se arrependido assim que fechara a porta. Ficara ali, deitado no espaço escuro e apertado, xingando-se por pelo menos meia hora, até chegarem àquela casa. Então o carro parara, a porta se abrira, e o que ele tinha feito? Saíra, desculpando-se por seu comportamento estranho, e fora para casa? Não. Havia ficado de pé, esperando que a morena do elevador saísse do veículo e se unisse a ele, e a seguira com docilidade para dentro da casa enorme e até aquele quarto.
Greg havia sido confiante como uma criança ao subir na cama e, sem que ela pedisse, abrir as pernas e os braços para que ela o amarrasse. Tinha até sorrido ao ouvi-la anunciar:
— Minha filha vai adorar você. É o meu melhor presente de aniversário de todos os tempos.
Depois que a mulher havia saído do quarto, ele ficara ali, com a mente vazia por alguns momentos antes de começar a perceber a situação na qual se envolvera. Desde então, contemplava, chocado, o que tinha acontecido. Seu comportamento não fazia sentido. Era como se tivesse ficado temporariamente louco, ou perdido o controle de sua mente. Incapaz de resolver a charada, passara a se preocupar com questões mais imediatas, como, por exemplo, o que aconteceria com ele, uma vez que já estava ali. Minha filha vai adorar você. É o meu melhor presente de aniversário de todos os tempos.
As palavras, e o fato de encontrar-se amarrado à cama, o tinham deixado com medo de que fosse algum tipo de presente sexual. Um escravo, talvez. Aquela possibilidade o fizera imaginar ser violentado por uma mulher enorme, feia e com bigodes, pois só alguém terrivelmente sem atrativos precisaria seqüestrar e amarrar um homem para conseguir sexo nos dias atuais. Quando já estava se apavorando com os horrores imaginados, tentara voltar à realidade. A mulher, a mãe, não podia ter mais que vinte e cinco ou trinta anos. Com certeza, não teria uma filha com idade suficiente para querer um escravo sexual. Nem mesmo para saber o que fazer com um. Além do mais, por que alguém iria desejá-lo como escravo sexual?
Greg tinha uma autoestima saudável, e sabia que era atraente, mas não era nenhum astro do rock ou modelo. Era um psicólogo que usava ternos conservadores, tinha um corte de cabelo conservador, e levava uma vida conservadora, baseada em trabalho, família e pouco mais.
Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta do quarto se abriu outra vez. Retesando-se, ele ergueu a cabeça para espiar naquela direção, e viu que era a mesma mulher de instantes atrás. Observou-a com interesse. Exceto pelo cabelo loiro e longo, era muito parecida com a morena que o levara até ali. Era linda, com lábios carnudos, rosto oval, nariz reto e os mesmo olhos azuis da outra. Deviam comprar as lentes no mesmo lugar. Não, os olhos não eram iguais. Tinham o mesmo formato e cor, mas os da morena refletiam uma tristeza e uma sabedoria que contrastavam com a juventude da aparência. Nessa mulher, tais características estavam ausentes: os olhos eram francos, intocados pelo remorso ou pelo sofrimento. Parecia mais jovem. No entanto, ela era parente da morena, pensou, enquanto a via ir até a cômoda próxima à cama e abrir uma gaveta. Irmã, provavelmente.
Deixou os olhos vagarem pelo vestido preto, curto e justo que ela usava, seguindo para as pernas bem torneadas, e pensou que era uma pena ela ser velha demais para ser a filha da morena. Não se incomodaria em ser o presente dela. Revirando os olhos ante a ideia, observou-a fechar a gaveta e esperou que ela prestasse atenção nele, o que não aconteceu.
Para seu espanto, ela se dirigiu à porta, pretendendo sair sem nem se despedir. Ele ficou tão chocado que sua boca se abriu duas vezes antes que conseguisse dizer:
— Com licença.
A loira parou na porta e voltou-se para olhá-lo com curiosidade.— Acha que pode me desamarrar? — ele pediu.
— Desamarrar você? — Demonstrando surpresa com o pedido, ela se aproximou da cama.
— Sim, por favor. — Greg notou o jeito como ela olhava para suas mãos. Sabia que os pulsos estavam vermelhos e esfolados de tanto puxar as amarras.
— Por que mamãe não acalmou você? Ela não devia tê-lo deixado assim. Por que... — Ela parou e piscou, revelando compreensão.
— Ah, claro. Ao chegar mais cedo, Bastien deve tê-la interrompido antes que ela pudesse arranjar tudo. Acho que ela iria voltar e terminar com você depois, mas se esqueceu.
Greg não tinha a mínima ideia do que ela estava falando, exceto pelo fato de ela acreditar que a mãe o levara até lá, o que, definitivamente, não era o caso.
— A mulher que me trouxe até aqui era jovem demais para ser sua mãe. Ela se parecia com você, mas tinha cabelo escuro. Sua irmã, talvez?
Por algum motivo, isso a fez sorrir.
— Não tenho irmã. A mulher que você descreveu é minha mãe. Ela é mais velha do que aparenta.
Incrédulo, ele arregalou os olhos ante as implicações da afirmação.
— Então, eu sou o seu presente de aniversário?
Ela assentiu, devagar. Depois inclinou a cabeça, intrigada.
— Esse é um sorriso estranho. No que você está pensando?
Greg estava pensando que era o miserável mais sortudo do mundo, enquanto sua mente reajustava as cenas que tinha imaginado com uma mulher enorme e feia tirando a roupa e ajeitando-se sobre seu corpo amarrado, para as mesmas visões, mas com aquela mulher no lugar. Permitiu-se aproveitar a fantasia por um instante, mas notou que seu corpo estava gostando até demais quando uma saliência começou a destacar-se em sua calça.
Tentou recuperar a razão. Embora pudesse ser delicioso servir de escravo sexual para ela, tinha planos: uma viagem repleta de praias e dançarinas seminuas. E já estava tudo pago.
No entanto, se após a viagem ela quisesse sair com ele e depois amarrá-lo a uma cama e tirar vantagem de seu corpo... Bem, ele gostava de pensar em si mesmo como uma pessoa prestativa.
Além do mais, nesse caso, ser um escravo sexual poderia não ser tão ruim. Notando que seus pensamentos retomavam o caminho anterior, forçou-se a colocar no rosto uma expressão séria e voltar à realidade.
— Sequestro é ilegal.
— Mamãe sequestrou você?
— Não exatamente — ele admitiu, lembrando-se de como entrara no porta-malas por vontade própria. Pensou em mentir, mas logo desistiu, pois mentia muito mal. — Mas eu não quero ficar aqui, e não sei por que entrei no porta-malas do carro da sua mãe. Pareceu natural naquele momento, mas eu jamais...
Sua voz sumiu ao perceber que a loira não estava prestando atenção. Ao menos, não parecia estar. Estava olhando para sua cabeça, concentrada, com a testa franzida. Também tinha se aproximado ainda mais da cama, embora ele acreditasse tratar-se de
uma ação subconsciente. Então ela balançou a cabeça, frustrada.
— Não consigo ler sua mente — murmurou.
— Não consegue ler minha mente? — ele repetiu, devagar.
Ela anuiu.
— Entendo... e... isso é um problema? — ele questionou. — Quero dizer, você sempre lê os pensamentos dos outros?
A mulher assentiu de novo, distraída.
Greg tentou ignorar o desapontamento que o invadiu ao reconhecer que a moça era louca ou que, pelo menos, tinha alucinações, se pensava que podia ler mentes. Não devia se surpreender. A mãe não era exatamente normal, ou não permitiria que estranhos entrassem no porta-malas do carro. Estivera atrás dele e, com certeza, o vira entrar. Qualquer pessoa teria saído correndo, chamando os seguranças, em vez de levá-lo para casa.
Pelo visto, a loucura estava à solta aquela noite. Primeiro havia sido o seu próprio comportamento; depois, o da morena; e agora a loira achava que podia ler mentes. Pensou se não haveria alguma loucura coletiva acometendo a cidade. Talvez homens
em toda Toronto estivessem embarcando em porta-malas e deixando-se amarrar a camas. Talvez fosse alguma droga, jogada no reservatório municipal de água; um complô terrorista para incapacitar todos os homens no Canadá.
Por outro lado, talvez tudo fosse apenas um sonho esquisito, e ele ainda estivesse em seu consultório, adormecido, com a cabeça sobre a mesa. Greg decidiu que era o cenário mais provável.
Seria a explicação mais satisfatória para seu comportamento inexplicável. Claro, isso não fazia diferença nenhuma. Dormindo ou acordado, louco ou não, estava ali e, mesmo que fosse um sonho, queria chegar em casa. Tinha um voo para pegar.
— Ouça, se puder me desamarrar, prometo que vou esquecer tudo isso. Não vou procurar as autoridades, nem nada.
— Autoridades? — ecoou a loira. — Quer dizer, a polícia?
Ela parecia espantada, como se a possibilidade não tivesse lhe ocorrido.
— Bem, sim. Certo, talvez eu tenha vindo até aqui por vontade própria — ele admitiu, com relutância. — Mas agora quero ir para casa e, se você não me soltar, trata-se de cárcere privado, e isso é crime.

2 comentários:

  1. Oiii

    ADOREI!!!
    Quero ler mais!!!

    Adorei o Thomas, quero um pra mim hahaha!

    Bjus =***

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  2. De inocente, essa mordida não tem nada!!! kkk

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