15 de agosto de 2014

A Vida do Livreiro A. J. Fikry - Gabrielle Zevin ( #Resenha)


A Vida do Livreiro A. J. Fikry, oitavo romance de Gabrielle Zevin, é publicado no Brasil pela Paralela, selo da Companhia das Letras.
É uma leitura despretensiosa que vai cativando o leitor a cada virada de página. É impossível não se perder (e se prender!) no universo de A. J. Fikry, um livreiro irritadiço, casca grossa e ermitão mas que tem um gosto bem refinado para livros. Conhecemos sua pequena livraria, a Island Books; entramos na sua rotina e topamos com uma série de personagens praticamente reais: os moradores de Alice Island, a pequena "ilha" onde ele vive (um bando de palpiteiros de plantão), o xerife local (com sua cara de mal mas um coração bondoso), e Amelia, a promotora de uma editora que causou uma "forte" primeira impressão em Fikry.
Mas o que ele não sabia é que a partir do primeiro contato com Amelia, sua amargurada vida iria tomar um novo caminho. Especialmente quando um certo "pacote", juntamente com uma carta, são deixados em sua livraria...
"Para o dono da livraria..."
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Nenhum homem é uma ilha; 
Cada livro é um mundo.

A. J. Fikry é um homem de quase meia idade, viúvo, carrancudo e recluso (odeia gente, mas ama seus livros!). Sua pequena livraria, a Island Books, não anda muito bem... As vendas caíram e, para piorar, um livro muito raro e precioso foi roubado. A Island já teve dias melhores, dias em que ele tinha sua amada esposa ao seu lado. Agora só lhe resta as lembranças do acidente e o fardo da tragédia dupla: Nic, sua esposa, estava grávida. Sua vida acabou quando ela se foi e assim, a Island também parou no tempo. O que restou foi um buraco negro na sua alma e uma livraria prestes à falir.
"Eu não quero morrer", diz A.J. um tempinho depois. "Só acho difícil estar aqui o tempo todo. Acha que sou louco?" (Fikry - pág. 32)

Desde a morte repentina de Nic, Fikry se isolou do mundo. Seus sonhos ficaram enterrados nas estantes da livraria e sua felicidade deu lugar à amargura. Então ele se limitou a viver no "piloto automático", comendo alimentos congelados e entregando-se a rotina. Quase todos se afastaram por causa de seu humor - exceto sua cunhada Ismay e seu único amigo, o policial Lambiase, um cara engraçado e de bom coração. O ápice de sua vidinha se resumia às conversas com Lambiase e aos representantes das editoras que ele escorraçava da Island!
Livraria Eterna Cadencia (Bs. As.)

Com a Island praticamente falida e sem vontade de viver, Fikry estava muito próximo de desistir de tudo... Até que...

Amelia Loman é a nova representante de vendas da Pterodactyl, uma pequena editora. Não é uma mulher tão bela, mas é inteligente, gentil, cheia de energia e tem um jeito um tanto excêntrico. Totalmente o oposto de Fikry! Entretanto, compartilha com ele uma paixão: os livros. Agora, seu trabalho é ir até a Island, conhecer o dono casca-grossa e apresentar os lançamentos da editora. Mas nem mesmo o amor pelos livros é o suficiente para evitar o desastre desse primeiro "encontro"... e Fikry, mais uma vez, deixa seu lado antipático dominar. Amelia deixa a livraria, mas não sai da cabeça de Fikry....

Eis que o destino resolve dar mais uma nova nuance à sua alma negra... 

Depois do desastroso encontro  com Amelia, Fikry recebe uma entrega "especial" na livraria... Algo que realmente vai mudar sua vida para sempre! Grandes transformações acontecem e conseguimos aos poucos enxergar a alma de Fikry, seus motivos, suas frustrações e seus medos. A partir daí, é impossível não se emocionar e não se afeiçoar à este livreiro.

Às vezes os livros só nos encontram no momento certo. (Fikry - pág. 72)

Paralelamente, acompanhamos personagens secundários muito interessantes como Lambiase, Maya, Ismay e Daniel. Um dos personagens que mais gostei foi Lambiase - ele está sempre presente e disposto a ajudar as pessoas. E uma delas (além de Fikry, é claro), é Ismay, a mulher pela qual Lambiase nutre uma paixão platônica. Ismay, por sua vez, tem um casamento complicado com o escritor-mulherengo Daniel Parrish - o que nos leva à mais um desdobramento na trama.
"É o medo secreto de que não é possível sermos amados o que nos isola", diz a passagem, "mas é apenas porque estamos isolados que pensamos não sermos amáveis. Certo dia, não se sabe quando, vai estar dirigindo por uma rua. E certo dia, não se sabe quando, ele, ou ela, aliás, estará  lá. Será amado porque, pela primeira vez na vida, realmente não estará solitário. Terá escolhido não estar solitário." (menção ao romance "Desabrochar Tardio" - pág. 115)

Quer saber mais sobre esta comovente história de amor e redenção? Leia. Vale a pena!
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Um Livro, Uma Encomenda e Um Novo Amor.


Ao ler A Vida do Livreiro A.J. Fikry vivenciei uma série de emoções. Primeiro, senti uma tristeza  angustiante por causa da tragédia pessoal de Fikry (a morte de Nic), depois passei por uma relação de amor e ódio por ele (gênio difícil...), e, finalmente, com tantas reviravoltas, sorri, me emocionei, chorei e acabei desolada. 

Duvido que o leitor vá se simpatizar com Fikry logo de cara. Nosso personagem principal é grosso e mal humorado. Totalmente ranzinza! Só com o desenrolar da história conseguimos enxergar seu verdadeiro caráter e seu coração. Assim como Fikry, aos poucos a Island Books também vai ganhando vida, cativando novos clientes e se transformando no ponto de encontro do clube de leitura local. Viu como o amor pode mudar o mundo? Ou são os livros que podem mudar o mundo? Óh dúvida cruel!!! rsrsrs
A primeira abordagem de Maya ao livro é pelo cheiro. Ela tira a sobrecapa, segura perto do rosto e embrulha sua cabeça com ele. Livros geralmente têm cheiro do sabonete do papai, grama, o mar, a mesa da cozinha e queijo. (Maya - pág. 65)

O ponto chave da história acontece logo nas primeiras páginas (a tal encomenda...). Mas é próximo ao final do livro que descobrimos que isso tudo vai muito mais além: os destinos dos personagens estão entrelaçados de uma forma que você jamais suspeitaria. Os pontos soltos ganham seus nós, causando maior dramaticidade e conduzindo a todos à um final comovente, cheio de surpresas e ao mesmo tempo irônico. 

Outra coisa: ao terminar o livro, você vai ter uma  nova lista de leitura. Em cada capítulo, Fikry nos indica uma obra, cita um autor, deixa um recado ou faz uma crítica. É como se ele dialogasse com a gente o tempo todo...


Tarde de Autógrafos na Island Books!

Gabrielle Zevin tem um jeito único de escrever. Sua narrativa é envolvente, rica em detalhes e segue um ritmo totalmente diferente do que já li. A autora intercala pontos de vista e mistura memórias do passado e do presente, criando um redemoinho de emoções.

A Vida do Livreiro A.J Fikry nos traz verdadeiras lições de vida, de superação, de redenção e da possibilidade de reescrever nosso destino. Ele nos mostra o poder transformador do amor na vida das pessoas, até mesmo das que têm o coração endurecido pelas tragédias.

"Maya, somos o que amamos. Somos aquilo que amamos. (...) Não somos as coisas que colecionamos, adquirimos, lemos. Somos enquanto estamos aqui, apenas amor. As coisas que amamos. As pessoas que amamos. E estas, acho que estas realmente continuam." (Fikry - pág. 181)

Quanto à edição, o livro tem uma excelente diagramação, uma boa revisão e um capa com uma "mensagem subliminar": vários livros abertos como se fossem verdadeiros portais para outras realidades. E não é verdade?

Leitura super indicada. Corra descobrir o que se esconde nas prateleiras da Island Books!


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O Livro


A Vida do Livreiro A. J. Fikry
Gabrielle Zevin

Paralela
Literatura Estrangeira / Romance
ISBN: 8565530663
1a Edição / 2014
192 Páginas

'Livrarias atraem o tipo certo de gente'. É o que descobre A. J. Fikry, dono de uma pequena livraria em Alice Island. O slogan da sua loja é 'Nenhum homem é uma ilha; Cada livro é um mundo'.

Apesar disso, A. J. se sente sozinho, tudo em sua vida parece ter dado errado. Até que um pacote misterioso aparece na livraria. A entrega inesperada faz A. J. Fikry rever seus objetivos e se perguntar se é possível começar de novo. Aos poucos, A. J. reencontra a felicidade e sua livraria volta a alegrar a pequena Alice Island.
Um romance engraçado, delicado e comovente, que lembra a todos por que adoramos ler e por que nos apaixonamos.

Capas Estrangeiras



A Autora

Gabrielle Zevin
Gabrielle Zevin começou sua carreira de escritora aos 14 anos. Formada pela Universidade Harvard, é roteirista e A vida do livreiro A. J. Fikry é seu oitavo romance. Depois de muitos anos morando em Nova York, hoje vive em Los Angeles.

Site da autora:  gabriellezevin.com

Site da Companhia das Letras - clique aqui 


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