1 de novembro de 2015

Pensão Margaridas - João Vasconcellos


@PontoVital


Em Pensão Margaridas, João Vasconcellos conta sobre sua experiência durante uma internação equivocada numa instituição para doentes mentais. Considerado um relato emocionante e inspirador, o livro foi elogiado pela crítica e indicado para psicólogos, psiquiatras e pessoas com parentes em condições de dependência química. No dia 16 de novembro, o autor estará na sessão de autógrafos na Livraria da Travessa, em Botafogo/RJ.



Pensão Margaridas
João Vasconcellos


SOU AUTOR DO LIVRO 'PENSÃO MARGARIDAS'', que constitui-se num relato ficcional-memorialístico, onde é narrada a minha internação na instituição com o mesmo nome, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro, por abuso de drogas, e que ocorreu em junho de 1989. 

O livro tem sido elogiado pela crítica especializada. E o foi, particularmente, pelo poeta, acadêmico e crítico literário Ivan Junqueira, que deixou o prefácio em manuscrito, que foi encontrado após o seu falecimento. Este prefácio, supostamente inacabado, constitui-se no último texto escrito pelo Ivan. 

O livro está ao lado de 'Cemitério dos vivos', de Lima Barreto, e de 'Hospício é Deus', de Maura Lopes Cançado. 

Após a minha internação na 'Pensão Margaridas', foi internado um rapaz vindo de uma clínica de Petrópolis, que foi submetido ao mesmo tratamento que eu, e que morreu poucos dias depois. O caso teve, na época, repercussão nacional.



Entrevista com João Vasconcellos

Imagine ser trancafiado dentro de instituições para doentes mentais e não ser um doente? Essa experiência foi vivenciada pelo carioca João Vasconcellos que, por cinco anos, tomou remédios pesados contra um diagnóstico errado de esquizofrenia-paranóide. Na verdade, João era dependente químico e vivia abusando de álcool e cocaína, o que lhe causava confusões. ‘Pensão Margaridas’ – nome dado por conta da instituição em que viveu por dois anos e sete meses, no Rio de Janeiro - é uma obra que desperta o interesse não só de leitores ávidos por uma singular história de vida, mas de profissionais que precisam saber como ser mais humanos no tratamento de doentes mentais (ou supostos de sê-los). E, por conta do tratamento literário dado ao tema, o livro concorrerá ao Prêmio Jabuti- 2016, na categoria romance. João, comerciante e empresário, não toma medicamentos. É saudável e leva uma vida normal. 

Confira a entrevista do autor:

1. Por que escrever sobre a vida nas instituições de doentes mentais? Acha que sua experiência poderá ajudar a mudar os tratamentos que são dados aos doentes?
É claro que sim. Através do ‘Pensão Margaridas’ sinto que não sou apenas eu quem está falando: tenho a sensação de estar dando voz a um enorme número de pessoas, de pacientes, de dependentes, que não tiveram condições de se expressar e de receber tratamentos adequados. 

2. O que essa experiência lhe trouxe de positivo?
De positivo trouxe muita coisa, uma experiência inigualável!Depois de ter vivido durante cinco anos em estado vegetativo, dormindo o dia todo e levantando apenas para comer, num estado que eu mesmo batizei de “infrapessoal”, ao despertar (como é narrado na ‘Nota sobre o Autor’, segunda parte, último capítulo), passei a sentir uma infinita alegria de viver, um estado que procuro comunicar de forma poética nesta parte final do livro. É como se eu tivesse tomado uma potente droga chamada ‘Vida’.

3. O senhor considera que essas internações equivocadas são comuns no Brasil? Há um despreparo por parte dos profissionais da área?
Internações equivocadas ocorrem não apenas no Brasil, como no mundo inteiro. Para mim há muitos interesses envolvidos. Pacientes internados dão muito mais lucro do que pacientes em casa. Pior do que o despreparo é a falta de uma verdadeira vocação humanística por parte de muitos profissionais que atuam nesta área.

4. Como foi se readaptar à vida rotineira?
Foi simples, tão simples quanto a minha cura, que ocorreu da noite para o dia. De qualquer forma, me precavi tomando alguns cuidados, e o principal desses cuidados decerto foi o de me afastar da droga e do álcool.

5. O senhor sofreu preconceitos por ter vivido, anos a fio, dentre dessas instituições? Demorou para que a sociedade não o rotulasse como louco?
Eu vivi muito isolado no período em que permaneci no estado infrapessoal; as pessoas pareciam perceber que eu tomava remédios, que não conseguia me expressar adequadamente. O preconceito existia. Como a minha ‘cura’ foi da noite para o dia, em pouco tempo as pessoas me desassociaram daquele quadro que eu vivi. Apenas o ex-terapeuta ficou insistindo que eu era doente, como ficou claro na parte final do livro.

6. Como foi o recomeço?
Recomeçar a minha vida do zero aos trinta e seis anos foi uma experiência e tanto! Se a demolição foi rápida, a reconstrução também o foi.

7. Qual a lição que tira de tudo isso?
Conseguir transformar em arte uma história dessas me parece um feito singular: muitas circunstâncias se cruzaram para que isso acontecesse... Confesso que eu não esperava um reconhecimento tão rápido do meu trabalho, sobretudo pela crítica literária. Acho, contudo, que a verdadeira lição as pessoas devem procurar extrair do próprio livro, já que a história fala por si.

8. Ficou mágoa nessa história toda? Como o senhor se define hoje? Quem é o João Vasconcellos?
O abalo que sofri em minha vida foi muito grande, mas consegui resgatar a história através da literatura; é como se estivesse limpando definitivamente o meu nome perante a sociedade. Acho que consegui transformar aquelas “margaridas” em flores verdadeiras... E, para responder, com poucas palavras a última pergunta, João Vasconcellos é alguém que acredita na Vida e na arte...

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