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24 de fevereiro de 2015

Resenha: Eu Estava Aqui... e Você? - Neir Ilelis

@tudoempauta


Eu Estava Aqui... e Você?, de Neir Ilelis, é um romance que mistura ficção e sobrenatural. O livro chegou às minhas mãos pela parceria com a Tudo em Pauta. Do mesmo autor, já resenhei aqui no blog sobre Os Caminhos de Carla – aproveite e confira a resenha clicando aqui.
Neste romance, acompanhamos Maria, uma jovem de 17 anos, que busca respostas para sua vida. Onde está seu pai? Por que sua mãe age de forma destrutiva? E o mais importante, quem é ela mesma, Maria? Com a chegada de um misterioso garoto na escola e sua obsessão em conhecer um determinado lugar que nem no mapa consta, Maria se vê enredada numa aventura que mudará para sempre sua vida e tudo o que ela acredita.
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- Acredite no que vou lhe dizer: Não acredite em tudo que vê, em tudo que ouve... Seus olhos e seus ouvidos podem ser os seus maiores inimigos. Pense no espelho e na vida como um enorme reflexo. Tire o espelho e a vida simplesmente some. (Toni – pag. 168)


Maria é uma garota que está prestes a completar 18 anos. Ela mora com sua mãe, uma mulher jovem que se droga sem motivo e tem um caso com um homem casado. Nesse caótico cotidiano, com falta de dinheiro para colocar comida na mesa, Maria empurra a vida entre a escola e a companhia de sua amiga Beatriz – que é apaixonada por ela.  Sua vida é uma porcaria sem sentido, Maria não tem pudor em falar palavrões e nem mede palavras. As brigas com sua mãe são constantes e quem paga sempre o pato é a porta de seu quarto, onde ela se tranca, enquanto sua mãe afoga suas mágoas nas drogas.

Até que um dia um novo garoto entra na escola, exatamente na sala de Maria. Toni é estranho: tem cabelos escuros,  traja roupas pretas e seu corpo é frio – como o de um cadáver. E quando ele, durante uma das aulas, lança um pequeno desafio envolvendo as coordenadas de um misterioso lugar – um lugar cujo nome ele só poderá contar para uma pessoa ali da sala – Maria se sente tentada a desafiá-lo.  E no mesmo instante que seu olhar encontra com o dele, ela se sente tragada pelo universo e só se dá conta de que sua mente estivera ausente quando o sinal do final da aula toca. Como isso foi possível?
- Mas eu preciso ser convidado.
- Por quê? Não gosta do dia, refere a noite, precisa de um convite oara entrar na casa dos outros, você deve ser mesmo um vampiro.
- Não – respondeu ele com seriedade. – Sou apenas educado.
(Maria e Toni – pág. 35)
Mais tarde, intrigada com Toni e suas coordenadas, Maria vai pesquisar e descobre que não há nada no lugar indicado: nenhuma cidade, nem referência. Tudo que ela encontra é uma página na internet onde alguém  inseriu esses dados e um nome: “Cor Dei”, que  em latim significa Coração de Deus. Coincidência ou não, é o mesmo nome tatuado no braço de Toni... O que isso significa?

- Me fala sobre isso – Apontei para o nome que estava escrito embaixo do meu retrato.
- Coração de Deus. Eu tenho que ir até lá. – abaixou a cabeça demonstrando tristeza.
Segurei seu rosto gélido e o encarei.
- Por quê?
- Não sei. Eu sonho com isso todos os dias. Desde criança. Preciso ir.
- Isso é loucura. Não passa pela sua cabeça que isso é uma grande bobagem? – ele levantou-se bruscamente, tirou a jaqueta e depois a camiseta e virou-se para mim.
- E isso, é loucura?
Arregalei os olhos. Nunca tinha visto uma coisa daquela. Se tivesse força teria corrido dali. Por baixo daquelas roupas havia um corpo esquelético, quase transparente, tão fino que o coraão saltava do peito dele. Como se movida por uma compaixão, levantei-me e fui até ele. Parecia já ter vivido aquela cena antes. Como? Não podia ser. Estendi a mão e coloquei-a sobre o coração dele. Levei um choque tão grande que o tranco me jogou na parede onde caí desacordada.
(Maria e Toni – pág. 69)
Maria mal conhece Toni mas decide falar com ele e descobrir mais sobre a tal Cor Dei. Sem perceber, sua ousadia acaba colocando Toni para dentro de sua vida. Ele insiste em que ela o convide para entrar na sua casa (seria um vampiro?) e a convence a viajar para a distante Cor Dei, mesmo sem a permissão de sua mãe. Com uma pequena mochila nas costas, sem dinheiro e totalmente sem noção do perigo, Maria e Toni começam sua trajetória rumo ao lugar. O que Maria vai encontrar pela frente é um caminho tortuoso, lugares inóspitos, isolados e irá passar fome, privações e provações que vão levá-la ao abismo de sua alma.
- Você já parou para pensar que eu posso não ser desse mundo? (Toni – pág. 71)

Uma jornada cheia de mistérios, criaturas sobrenaturais e perigos, onde nada nem ninguém é o que parece ser. Nem mesmo Toni. Nem mesmo Maria. Uma trama surreal, nervosa e conflitante que levará cada personagem a se reinventar.

Uma verdadeira viagem por nossos medos e pela psique humana. Coisa que nem Einstein, Niestzche ou Freud podem explicar. Nunca.
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E quando alguém lhe perguntar aonde você foi, apenas diga:

 Eu estava aqui... e você?


Desde o começo da trama Maria sente que Toni não é deste mundo. Mas nada a impediu de largar sua vida medíocre e seguir com ele rumo a um destino desconhecido. E qual foi o real motivo de Maria entrar nessa encrenca, por assim dizer?  Como o próprio autor questiona: curiosidade, paixão, solidão? Maria estava buscando alguma coisa que nem ela mesma sabia ao certo. No entanto o que ela encontrou no caminho, colocou a prova toda sua coragem e sanidade. Pode ter certeza que você, leitor, também se sentirá insano e perdido durante a leitura.

Vou ser bem sincera: não consegui ter empatia nem com Maria, nem com Toni. Os dois me davam arrepios... Maria é arredia e Toni, "suspeito demais". A cada página que eu avançava,  sempre estava com um pé atrás. Talvez seja por isso que demorei pra terminar o livro.. Um misto de medo, angústia e revolta com tantas reviravoltas, lendas e coisas desconexas. É como se eu estivesse dentro do pesadelo de Maria.
-  Então me diga, você é gente ou você é monstro? Porque daqui onde me escondo, eu tenho medo e me exponho, pois sei que você não é ouro nem água, apesar e brilhar e matar a minha sede (Maria – pag. 148)
O livro termina e deixa no ar uma interrogação gigantesca sobre o universo, os personagens e o verdadeiro destino de Maria. Terminei a leitura e ainda estou chocada e perdida.
Quem é Toni? Um garoto normal, um louco, vampiro, extraterrestre, anjo ou demônio? Fantasma ou coisa da imaginação? Sonho ou pesadelo? Vou deixar você descobrir, caro leitor. Mas não se deixe iludir. Desde já aviso: você vê o que quer ver e não o que é para ser visto.
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O Livro


Eu estava aqui... E você?
Neir Ilelis
Ilelis Editora
Literatura Brasileira / Ficção
ISBN: 9788560636259
2013
372 páginas

Uma simples jovem, ao conhecer um rapaz, depara-se com um grande mistério. Se fosse outra garota, não cairia nessa, mas Maria precisava saber o que estava por detrás daquele garoto esquisito, que aparecia do nada e tinha um coração que quase saltava do seu peito. O que fez Maria aceitar o convite daquele garoto para ir a um lugar distante, perdido no meio do nada para ver o que ele lhe prometia - o coração de Deus. Mesmo sabendo que o garoto não era do seu mundo, com muita coragem ela resolve conhecer o mundo dele e dizer não a tudo que lhe foi oferecido. Em um jogo de intriga e surrealismo, ela tenta fugir sem saber ao certo se vai conseguir.

26 de janeiro de 2015

Resenha: Os Caminhos de Carla - Neir Ilelis


Os Caminhos de Carla, de Neir Ilelis, é um romance nacional lançado pela Ilelis Editora. Recebi esse livro da minha parceira Tudo em Pauta, a qual agradeço de coração por colocar em minhas mãos um livro que realmente mexeu comigo. 
Neir Ilelis é também autor de Eu Estava Aqui... E você? (resenha em breve), A Pressa dos Mortos, No Meio-Fio, As Santas e Liberdade, Volver!
Os Caminhos de Carla nos conta a história de uma moça bonita e inteligente que vê seu mundo desmoronar e sua ingenuidade rachar após uma fatídica viagem de férias com suas "supostas" amigas. Com capítulos que intercalam narrativas do passado e do presente, seguimos Carla rumo à um desfecho surpreendente.
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Logo os diabinhos, três ao todo, tomaram conta dos meus sonhos.
(Carla - pág. 17)



Carla é uma jovem de 17 anos. Filha única de Antônio e Carmem, pais zelosos e muito religiosos, Carla é tratada como se fosse uma porcelana chinesa. Mas ela não é mimada, nem coisa do tipo - é uma garota comum cujos pais temem por sua segurança neste mundo tão caótico.
O que ela não imaginava é que sua vida confortável estava prestes a mudar radicalmente quando sua amiga Marisa a convida para passar uns dias em sua casa de praia, situada num vilarejo de uma ilha afastada. Seu pai só a deixa ir porque ele conhece e tem muita confiança em Marco, o irmão mais velho de Marisa. Marco trabalha com Antonio num escritório advocatício e prontamente se responsabiliza por cuidar de Carla durante essa viagem.

E assim os amigos Carla, Marisa, Marcos, Joana e Piera seguem rumo à ilha. Tinha tudo para ser as férias perfeitas. Os jovens estariam sem a supervisão de adultos, numa praia linda, com dias de sol e noites de balada. Para Carla, era sua primeira vez viajando sozinha, sem os pais.

Ao chegar,  ela  se encanta com a praia e a hospitalidade dos moradores locais.  Por se tratar de um vilarejo de pescadores, todo mundo se conhece e logo Carla faz amizade com Mazinho, um velho pescador, e Paulinho, o dono do bar local. E é justamente nesse bar que Carla conhece Roger, um rapaz enigmático pelo qual se sente imediatamente atraída. Nos dias seguintes, eles passam a se encontrar e Carla tenta descobrir um pouco mais sobre a vida de Roger - coisa que não consegue. Apesar dos avisos de Paulinho para que ela se afaste dele, Carla insiste em procurá-lo. Até que numa noite, algo realmente terrível acontece... uma violência inimaginável que muda a vida dela para sempre.
Só agora entendi que tudo que começa com açúcar e mel, na vida real, termina em ácido cítrico e fel. (Carla - pág. 47)
Com marcas em seu corpo e cicatrizes em sua alma, Carla mal consegue se lembrar do que realmente aconteceu naquela noite. Até que, dias mais tarde, flashes em sua mente trazem lembranças de vozes e rostos que ela jura conhecer... Quem eram aquelas pessoas? Por que fizeram isso com ela? 

Seus pais estão desolados, suas amizades foram destruídas e ela já nem se reconhece mais. A única pessoa que parece compreender sua dor é Piera, que se mantem ao seu lado quando ela passa a ser hostilizada por Marisa.
Mesmo com dores físicas e emocionais, Carla segue em frente, enfrentando o passado e desafiando o futuro.  Mas há uma coisa que ela ainda precisa fazer: voltar à ilha mais uma vez para se livrar dos demônios que tanto a atormentam.
- Vou falar com seus pais. Vou sugerir que vocês passem um fim de semana na ilha.
- Você?
- Claro, você, seu pai e sua mãe.
- Nada disso. Quero ir sozinha. Quero ir sozinha sem data para voltar, sem precisar dar um telefonema, sem me preocupar com ninguém à minha espera.
- Isso não seria uma fuga?
- Se fosse, eu estaria discutindo com você? Quem foge não avisa. E as portas da minha casa sempre estiveram abertas.
(Clara e seu psicólogo - pág 202)

De volta ao lugar que poderia ter sido sua sepultura, Carla vai atrás da única pessoa que pode lhe ajudar: Roger. E aí começa uma busca incansável pela verdade que vai afetar todos à sua volta.
Vim buscar a minha felicidade que deixei perdida num lugar qualquer daquela ilha. E não vou voltar sem ela. Ponto final. (Carla - pág. 23)


Não, não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar. (Thiago de Mello)

É justamente nessa vai-e-vem entre passado (as férias na ilha) e presente (seu retorno à ilha) que o leitor vai juntando as peças até descobrir os fatos e o peso de cada personagem na trama. Acompanhamos as decisões de Carla, as consequências e seu amadurecimento como mulher.

Tenho que confessar que a medida que fui me aproximando da verdade, uma angústia tomou conta de mim. Ironicamente posso dizer que onde há pescador, há sempre uma rede. E neste caso, falo de uma rede de mentiras, luxúria, dinheiro e poder que envolve todos que moram ou frequentam a Vila. E Carla, bem, ela foi a vítima disso tudo. A presa. O peixe que caiu, literalmente, na rede.


Lobos em Pele de Cordeiro


Todos os personagens são fortes, intensos e quase reais. 
Aos poucos vamos conhecendo o caráter duvidoso de Marco, o temperamento possessivo e egocêntrico de Marisa, a inveja de Joana e as reais intenções de Piera.

Mas a força mesmo está em Carla. O que aconteceu naquela fatídica noite trouxe para sua vida a violência, o preconceito, a traição e a conivência com o mal, levando-a a um caminho cheio de provações. Carla é como qualquer outra garota, com seus dramas, medos e sonhos.

Apesar dos percalços desse destino quase trágico, nunca vi medo no olhar dessa moça. Pois foi em seu momento mais vulnerável que ela se tornou mais forte. O modo como ela lidou com a situação, sem desmoronar, me impressionou. Carla enfrentou seus algozes e foi atrás da verdade. E, no final, eu não diria que ela deu a volta por cima nem que teve sua vingança. Eu prefiro dizer que o destino se encarregou de dar a cada um dos personagens o fim merecido. Duro, cruel e implacável.
Porém aprendi uma coisa: não é o tempo que envelhece as pessoas. É a vida. É o que ela nos reserva que nos faz envelhecer, morrer um pouco por dentro a cada dia. O tempo é relativo, Einstein já dizia. Nossa vida é absoluta, quem diz isso sou eu. (Carla - pág. 209)
A história é riquíssima e envolve o leitor. Mas vou logo avisando: não é para quem tem estômago fraco. Não espere rosas nem um happy ending. Não há príncipes encantados; só lobos em pele de cordeiro. É chocante, comovente, deixa você sem ar, sem ação e com as emoções a flor da pele.  E o mais curioso é que há uma certa sutileza em meio a tanta brutalidade.

Não sei como a Carla não pirou durante esse processo... Porque eu pirei durante a leitura! Vale conferir ;-)
Saí vitoriosa? Numa guerra não há vencedores. Há apenas marcas das feridas. O consolo é que consegui sobreviver a tudo isso e manter a minha cabeça no lugar. (Carla - pág. 209)
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- O Livro


Os Caminhos de Carla
Neir Ilelis
Ilelis Editora
Literatura Brasileira / Romance
ISBN 8560636013
2013
215 páginas

Vítima de drogas e álcool, desnorteada, dessacralizada do que tinha de mais puro dentro de si, Carla é um símbolo vivo de pessoa aparentemente frágil, mas de uma extraordinária grandeza interior, capaz de enfrentar as enormes barreiras que a vida costuma impor. No funil veloz das distrações alegres e do devaneio amoroso a que ela se entregou com tanta generosidade, viu-se brutalizada, coberta de dores no corpo e ferida, muito mais na alma. Aos poucos ela vai pondo abaixo os mistérios que a vida lhe reservou.
Por vontade inarredável dessa moça maravilhosa, sai-se da leitura com inveja de Carla e com saudades dela. Carla é um exmplo de valor interior, capaz de enfrentar borrascas e vendavais, sem perder a paciência, sem perder a calma, porque ela é grande até nas dúvidas.
Não é semp que, na literatura brasileira contemporânea, o entrelaçamento do passado e do presente terá sido tão bem conseguido como em Os Caminhos de Carla. 
(por Caio Porfírio Carneiro)

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